Os textos e fotografias produzidos pela equipe da PASCOM da Paróquia São José – C. dos Dantas podem ser livremente utilizados, mencionando-se o blog http://www.montedogalo2009.blogspot.com/ como fonte

7 de jan. de 2010

REFLEXÃO DO DIA - Quinta-Feira (07/01)

Jesus voltou para a Galiléia, com a força do Espírito, e sua fama espalhou-se por toda a redondeza. Ele ensinava nas sinagogas, e todos o elogiavam. Jesus foi à cidade de Nazaré, onde se havia criado. Conforme seu costume, no sábado entrou na sinagoga, e levantou-se para fazer a leitura. Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, Jesus encontrou a passagem onde está escrito: «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos, e para proclamar um ano de graça do Senhor.» Em seguida Jesus fechou o livro, o entregou na mão do ajudante, e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. Então Jesus começou a dizer-lhes: «Hoje se cumpriu essa passagem da Escritura, que vocês acabam de ouvir.» Todos aprovavam Jesus, admirados com as palavras cheias de encanto que saíam da sua boca. (Lc 4,14-22ª)

Estamos diante do famoso texto de Lucas em que Jesus visita a sinagoga de sua terra. Ele é um homem religioso e nada mais natural que santifique o sábado. Lucas gosta de dizer que os gestos e feitos de Jesus estão sempre ligados a uma misteriosa presença do Espírito. “Jesus voltou para a Galiléia com a força do Espírito”.
E ei-lo na sinagoga de Nazaré, sua terrinha, com gente conhecida, colegas da lida diária, gente mais velha...Vamos então acompanhar a liturgia da palavra. Jesus se levantou para fazer a leitura. E lê o texto de Isaías: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a boa nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação dos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos, e para proclamar um ano de graça do Senhor”.
Depois de fechar o livro, sentou-se, e os olhos de todos se fixaram nele. Imagino essa cena num quadro de um pintor... O fascínio de olhos pregados em Cristo....
“Agora estas palavras se cumprem em mim. Eu estou sendo ungido pelo Alto. Minha vida é realizar uma missão que não é minha, mas daquele que me enviou. Preciso ficar atento. Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que vocês acabaram de ouvir. Venho anunciar uma notícia agradável aos pobres.
Eles são amados por meu Pai, não precisam desesperar porque seus nomes estão na palma de sua mão. Ao longo de meus anos de vida pública olharei pelos pequenos, pelas viúvas de filho único, pelos corações que não têm poder nem poderio. O mundo novo de meu Pai é dos pequenos de coração que se jogam confiantemente nele. Cegos dos olhos virão a mim, eu untarei seus olhos para que vejam também o rosto do Pai e minha face de Enviado. Quero que todos vejam claramente seu destino. Venho para abrir a porta das prisões em que estão aqueles que cultuam o dinheiro, o ego, seus prazerizinhos e sua vidinha. Venho libertar os homens de si mesmos e fazer com vivam um ano de graça. Vocês são felizes porque ouvem o que eu digo e acolhem esta explicação. Fui ungido para anunciar o mundo novo de meu Pai e fazer com que os mais humildes de entre vocês sejam príncipes desse reino novo”.
A Liturgia da Palavra não consiste na leitura de um texto que se perde nas brumas do tempo. A Escritura, proclamada no hoje da vida da Igreja e do mundo, na presença do Ressuscitado chega até os mais íntimos cantos de nossa vida. Não basta apenas ficarmos encantados com as palavras de Jesus. Importante que sejam levadas ao fundo do coração e nos transformem. Quando, aos domingos, recitamos o Credo queremos dizer a Deus: “É isso que quero, que busco de todo o coração!”

6 de jan. de 2010

06 de janeiro - Dia de Reis e da Epifania do Senhor


O "Dia de Reis" é uma das festas tradicionais mais singelas celebrada em todo o mundo católico. Neste dia se comemora a visita de um grupo de reis magos (Mt 2 1 -12), vindos do Oriente, para adorar a "Epifania do Senhor". Ou seja, o nascimento de Jesus, o Filho por Deus enviado, para a salvação da humanidade.
O termo "mago" vem do antigo idioma persa e serviu para indicar o país de suas origens: a Pérsia. Eram reis, porque é um dos sinônimos daquela palavra, também usada para nomear os sábios discípulos de uma seita que cultuava um só Deus. Portanto, não eram astrólogos nem bruxos, ao contrário, eram inimigos destas enganosas artes mágicas e misteriosas.
Esses soberanos corretos, esperavam pelo Salvador, expectativa já presente mesmo entre os pagãos. Deus os recompensou pela retidão com a maravilhosa estrela, reconhecida pela sabedoria de suas mentes como o sinal a ser seguido, para orientação dos seus passos até onde se achava o Menino Deus.
Foram eles que mostraram ao mundo o cumprimento da profecia de séculos, chegando no palácio do rei Herodes, de surpresa e perguntando "pelo Messias, o recém-nascido rei dos judeus". Nesta época aquele tirano reprimia a população pelo medo, com ira sanguinária. Mas os magos não o temeram, prosseguiram sua busca e encontraram o Menino Deus.
A Bíblia diz que os magos chegaram à casa e viram o Menino com sua Mãe. Isto porque José já tinha providenciado uma moradia muito pobre, mas mais apropriada, do que a gruta de Belém onde Jesus nascera. Alí, os reis magos, depois de adorar o Messias, entregaram os presentes: ouro, incenso e mirra. O ouro, significa a realeza de Jesus; o incenso, sua essência divina e a mirra, sua essência humana. Prestada a homenagem, voltaram para suas nações, evitando novo contato com Herodes, como lhes indicou o anjo do Senhor.
A tradição dos primeiros séculos, seguindo a verdade da fé, evidenciou que eram três os reis magos: Melquior, Gaspar e Baltazar. Até o ano 474 seus restos estiveram sepultados em Constantinopla, a capital cristã mais importante do Oriente, depois foram trasladados para a catedral de Milão, na Itália. Em 1164 foram transferidas para a cidade de Colônia, na Alemanha, onde foi erguida a belíssima Catedral dos Reis Magos, que os guarda até hoje.
No século XII, com muita inspiração, São Beda, venerável doutor da Igreja, guiado por uma inspiração, descreveu o rosto dos três reis magos, assim: "O primeiro, diz, foi Melquior, velho, circunspecto, de barba e cabelos longos e grisalhos... O segundo tinha por nome Gaspar e era jovem, imberbe e louro... O terceiro, preto e totalmente barbado chamava-se Baltazar (cfr. "A Palavra de Cristo", IX, p. 195)".
Deus revelou seu Filho ao mundo e ordenou que o acatassem e seguissem. Os reis magos fizeram isto com toda humildade, gesto que simboliza o reconhecimento do mundo pagão desta Verdade. Isso é o mais importante a ser festejado nesta data. A revelação, isto é, a Epifania, que confirma a divindade do Santo Filho de Deus feito homem, que no futuro sacrificaria a própria vida em nome da salvação de todos nós.

Deus ultrapassa tudo o que podemos imaginar...

Gostaria de dirigir estas linhas a todos os jovens, garotas e rapazes. Uma garota talvez possa compreender-me melhor a partir do interior, se infelizmente lhe aconteceu uma experiência como a minha. Que estas palavras sejam para você uma mensagem de esperança.
Partilhando com vocês essa passagem da minha vida gostaria, antes de tudo, de dar graças a Nosso Senhor, que me salvou e me permitiu renascer, pelo seu Amor que ultrapassa todo amor. Gostaria também de gritar: “Respeitem o outro no seu corpo, na sua intimidade. Respeitem a si mesmo também”.
Tenho vinte e oito anos. Tinha treze quando me aconteceu o que vou lhes contar. Quinze anos se passaram e eu nada esqueci. Todo o “filme” desse fato que dilacerou a minha vida está gravado em mim para sempre. Óbvio, pois foi escrito não sobre a “rocha”, mas sobre “argila em formação”, numa página branca, virgem. Mas agora, através do amor de Jesus, tudo se transformou.
Aos treze anos eu ainda era uma “menininha”. Feliz da vida, sem problemas, querendo amar o mundo inteiro, mas querendo amar a Deus mais que tudo, com toda a força do meu pequeno coração. Utopia? Não, não creio. É a ingenuidade das “crianças”. Possível, então? Sim, ainda hoje eu penso, apesar da dureza deste mundo, graças à força de Deus.
Frequentemente eu dizia a mim mesma: “Eu quero permanecer pura até o casamento. Entretanto, eu sentia no coração um chamado para amar só a Deus durante toda a minha vida. Parecia-me que só Deus poderia saciar toda a sede de amor que havia em mim. E eis que, de repente, numa esquina, sou, gratuitamente e sem razão, vítima de toda a violência de um ser humano. Era uma sexta-feira, uma hora de torturas sexuais, de gestos, um lugar, gravados para sempre. Palavras como: “Eu quero matá-la”, que ferem atrozmente. Eu estava encurralada entre algumas tábuas e o muro de um cemitério. Ninguém para socorrer-me. Como eu gostaria de ir ao encontro daqueles mortos do outro lado do muro... O que pode fazer uma menina de treze anos para se defender da maldade de um homem de vinte ou vinte e cinco anos? Nada. Eu desejava o nada. Aquele Jesus que havia feito um apelo ao meu coração ficara surdo de repente? Por que tudo aquilo? Por que tanta violência? Quantas perguntas fiz a mim mesma... Durante onze anos! Onze anos, como é longo! Creia-me. Principalmente quando você carrega esse peso sozinha...
Quando cheguei em casa – meus pais estavam ausentes por alguns dias –, eu só tinha uma idéia na cabeça: a morte. Tentei o suicídio... Acordei após ter dormido por dois dias. Mas a idéia do suicídio não me deixava e não me deixaria tão cedo. Eu não era a mesma pessoa. Havia um “antes” e havia um “depois”. Esse “depois”, eu o detestava de antemão. Eu me detestava. Eu me tornara um lixo. Um corpo e um coração sem gosto pela vida. Um coração? Não sei se eu ainda possuía um. Todo amor que ele até aí guardara transformou-se em ódio contra o ser humano, principalmente contra o sexo masculino.
Então, por que continuar a viver se eu não era mais nada? Apenas a morte poderia libertar-me. Era o que eu pensava. Essa idéia me perseguia com tenacidade. Os dias corriam sem me trazer nada de novo. Jesus, a fé, tudo em que até então eu crera de repente evaporou. Não havia mais amor em mim. Por ninguém. Nem por mim. A segunda tentativa de suicídio também fracassou. Então, forjei uma barricada em torno de mim. Essa barricada, eu a queria o mais resistente possível para que ninguém, nunca, encontrasse nela uma brecha. Meus pais não entenderam a mudança. Meu caráter foi se tornando cada vez mais duro. Eu me sentia mal, muito mal por estar assim, mas era quase contra a minha vontade. Eu era vítima e me sentia culpada. Quantas vezes, durante o sono, revivi a cena do estupro. Era indelével. Gostaria de ter matado aquele homem.
Não era mais necessário que me falassem de Deus; eu projetava nele toda a minha tristeza, todo o meu desgosto. Era quase culpa dele o que me acontecera, pois Ele não tinha ido me libertar. Agora, eu compreendo como durante todo esse tempo Ele sofria comigo, pois Deus é amor. Ele nos mostra isso todos os dias, mostrou-o na minha própria vida.
Os anos passaram. Pouco a pouco eu recomecei a rezar. Sem perceber, creio, pois eu me sentia terrivelmente só. Eu procurava alguém a quem falar. Hoje posso dizer que nunca, nem por um segundo, o Senhor largou a minha mão. Fui eu que larguei a dele. O Senhor podia restituir-me a pureza que eu perdera sem querer. Apenas Ele podia me recriar.
No final desses onze anos de desgosto, de tristeza, encontrei um padre com quem pude me abrir. Através do sacramento da reconciliação, através de seu coração, pude dar para Jesus todo o ódio acumulado, e pouco a pouco, com a ajuda do Senhor, recuperei a paz. Jesus tinha encontrado uma brecha na barricada que eu havia levantado com a força dos meus braços. Suavemente, mas com firmeza, Ele fez seu trabalho de Salvador. Ele não parava de chamar-me pelo meu nome. Para Ele eu era como sempre uma criança. Eu era como antes. Em alguns meses a barricada desmoronou. O Senhor só desejava uma coisa: poder morar no meu coração para me dar incessantemente o seu amor. Ele repetia sem cessar: “Você é única aos meus olhos e eu a amo” (Is 43,4).
Eu precisava deixar-me amar. Mas isso era muito duro para mim. Eu precisava tornar-me criança outra vez. Santa Teresa do Menino Jesus ajudou-me muito: “Quanto mais você for pobre, mais Jesus a amará. Se você se afastar Ele irá longe, bem longe, buscá-la...”.
Compreendi também que no madeiro da cruz Jesus havia assumido todos os meus sofrimentos. Esse sofrimento oferecido permitiu que, por minha vez, pouco a pouco, eu lhe oferecesse o meu. Isso não aconteceu num só dia. Foram necessárias horas e horas de doçura, de delicadeza, de paciência por parte do Senhor para reabilitar-me comigo mesma.
Eu readquiria a alegria de viver. Um dia, ao assumir o meu serviço no hospital, tive uma enorme surpresa. Diante de mim, num leito de doente... ele! Aquele rapaz que tanto me fizera sofrer, que desejara matar-me, contra quem secretamente eu alimentara um ódio incrível, estava lá, naquele leito de hospital, sofrendo, pobre e enfraquecido.
Durante onze anos, mesmo sem revê-lo, seu rosto ficara gravado em mim e agora ele surgia novamente na minha vida. Passado o choque da surpresa eu compreendi que, teoricamente, deveria cuidar dele. Na prática, aquilo parecia estar acima das minhas forças. Ele estava lá, nas minhas mãos, à minha disposição, esperando – como doente – que eu o aliviasse.
Então, todo o ódio que eu sentia por ele e que começava a atenuar-se, tornou-se mais forte, mais lancinante, mais presente. Eu podia vingar-me: eu podia matá-lo. E não se tratava de palavras vãs. Eu poderia muito bem injetar-Ihe algo em dose mortal. Pensei nisso. Desde o início. Pensava nisso à noite, em casa, sabendo que no dia seguinte o reencontraria. Eu pensava que, matando-o, me sentiria livre para sempre.
Eu sentia que Jesus me pedia para perdoar. Mas isso parecia estar além das minhas forças. Houve uma luta em mim em relação a esse perdão. Eu iria dá-lo ou recusá-lo? Eu pensava que perdoá-lo não mudaria nada para mim, não apagaria o que eu tinha vivido. Então, para quê? Mas, se eu o recusasse, estaria uma vez mais fechando a porta do meu coração ao amor de Jesus. Ele não nos pediu para perdoar os nossos inimigos? Por outro lado, recusando-me a dar esse perdão, eu sabia que estaria “mantendo” no pecado, longe de Deus, esse moço que me agredira. Mas eu continuava evitando... Então, levei tudo isso para a oração, pedindo uma só coisa: que eu fosse verdadeira ao conceder esse perdão. Que ele fosse realmente o desejo do meu coração e a vontade do Senhor. Eu também me confiei à Mãe do Céu, pedindo-Ihe para tornar o meu coração dócil ao espírito de Jesus.
Um belo dia, pude colher esse perdão como uma flor que acaba de desabrochar, e oferecê-lo a Jesus no sacramento da reconciliação. Uma paz imensa invadiu-me. É verdade que não foi um passe de mágica que me fez esquecer tudo que eu vivera; mas, oferecendo esse perdão, tudo foi transformado. Eu quero assegurar-lhe que foi o Senhor, por sua graça, que me permitiu dar-Ihe o perdão. Sem Ele meu coração nunca teria consentido em perdoar. Eu sou tão pobre...
Eis as maravilhas do amor do Senhor. Você não acha que ele ultrapassa tudo o que podemos imaginar? Você não acha que ele está sempre ao nosso alcance? Que vale a pena percorrer com ele um trecho do caminho para conhecê-lo melhor?
Eis o mais belo milagre do Senhor: “Ele transforma em estrelas os seus pontos negros... se você lhe dá um pouco do seu coração!”.

Transcrito de: Ange, Daniel. Teu corpo feito para o amor.
São Paulo: Loyola, 1995, pp. 184-189.

REFLEXÃO DO DIA - Quarta-Feira (06/01)

Logo em seguida Jesus obrigou os discípulos a entrar na barca e ir na frente para Betsaida, enquanto ele despedia a multidão. Logo depois de se despedir da multidão subiu ao monte para rezar. Ao anoitecer, a barca estava no meio do mar e Jesus sozinho em terra. Viu que os discípulos estavam cansados de remar, porque o vento era contrário. Então, entre as três e as seis horas da madrugada, Jesus foi até os discípulos andando sobre o mar, e queria passar na frente deles. Quando os discípulos o avistaram andando sobre o mar, pensaram que era um fantasma e começaram a gritar. Com efeito, todos o tinham visto e ficaram assustados. Mas Jesus logo falou: «Coragem! Sou eu, não tenham medo!» Então subiu com eles na barca. E o vento parou. Mas os discípulos ficaram ainda mais espantados, porque não tinham compreendido o acontecimento dos pães. O coração deles estava endurecido. (Mc 6,45-52)

Viver é sempre um desafio. São poucos os que vivem em plenitude. Viver cristãmente poderia até ser mais simples, mas por vezes é mais complicado. Somos mais complicadores do que simplificadores. Conhecemos desânimo, incompreensões, cansaço, insucessos, como os apóstolos que se meteram a remar com dificuldade porque o vento lhes era contrário. Há ventos adversos em nossos projetos de vida.
A multiplicação dos pães deve ter sido um fato extremamente impressionante. Na sua simplicidade, o evangelista Marcos afirma que, após o evento, Jesus obrigou os discípulos a irem adiante, enquanto ele ia despedindo a multidão. A tradução emprega obrigou. Talvez essa gente toda quisesse mais milagres e os apóstolos poderiam pensar que o Messias viera para fazer coisas mirabolantes. Ou será que as pessoas ficaram para agradecer?
‘Quando as coisas serenaram Jesus “subiu ao monte para rezar”. Sim, depois de tanta agitação compreende-se que ele tenha experimentado necessidade de estar a sós com o Pai. Não dá para viver no frenesi da agitação o tempo tudo. Estressa, cansa, esvazia a pessoa por dentro.
Diz Marcos que, pelas 3 horas da madrugada, “Jesus foi ter com eles andando pela água”. Nesse momento a página de Marcos ganha dramaticidade. Jesus parecia um fantasma, os apóstolos começam a gritar, ficam assustados, experimentam medo. Parecem perdidos.
Como perdidos estão os pais quando os filhos estão nas drogas, perdidos os agentes de pastoral quando não conseguem atingir o coração dos fiéis, perdidos os casais que não sabem mais construir a conjugalidade, perdidos os cristãos que não conseguem chegar à santidade.
A parte central do texto é mensagem de esperança: “Coragem, sou eu! Não tenhais medo”. Jesus sobe na barca. Tudo se acalma. O vento cessa e chega a bonança.
Pela fé, no coração de todos os desafios existenciais, o cristão sabe que Cristo se faz presente. A barca da vida não soçobra. Os projetos que empreendemos vão ter sucesso porque Jesus está por perto.
Marcos termina o texto com duas observações. Insiste que os discípulos experimentam um novo espanto. Não bastou a questão da multiplicação dos pães. Agora Jesus anda sobre as águas. E a outra observação que parece vincular medo, espanto com a falta de fé. “O coração deles estava endurecido”. Estamos diante do grave tema do endurecimento do coração. Na medida em que, numa postura de simplicidade humilde, o fiel faz atos de fé, à maneira de Abraão, à maneira dos cegos e paralíticos miraculados, o coração não se torna pedra. O orgulho e a auto-suficiência jactanciosa impedem que a graça penetre.

5 de jan. de 2010

Bom dia, Senhor!

ORAÇÃO

Senhor, meu primeiro pensamento nesta manhã que começa se dirige para Ti,
que velaste meu sono e assististe o meu despertar.
Tu moras nas alturas e habitas bem no íntimo de minha vida.
E todo esse dia é Teu.
Consagro-Te agora a jornada que começa.
Que meu trabalho seja fecundo
com o orvalho do teu amor e a força da tua benção.
Em vão trabalham os homens se Tu não os ampara.
Permite que eu possa responder claramente a todos
a respeito da esperança que existe em mim.
Que todos aqueles que eu encontrar
possam receber uma palavra amiga de meus lábios,
um gesto acolhedor de minhas mãos
e uma oração sincera do meu coração.
Olha na mesa dos homens pobres,
que possam se alimentar para recuperar as forças
e continuar a caminhada da vida.
Que hoje à noite, eu possa estar novamente Contigo,
na intimidade, como alguém que reencontra um amigo,
para poder dar graças pelo dia que me deste.
Obrigada por mais este dia, Senhor!
(Autor desconhecido)

O caminho da oração

O caminho da oração tem o mesmo comprimento da vida humana, nem mais nem menos. Ora é uma trilha alegre, que corre através dos campos, ora uma tranquila estradinha de roça, sem dificuldade, onde a pessoa pode abandonar-se a reflexões pacíficas, ora um difícil e escarpado caminho, que vai subindo pelos montes, ora um traço que se esgueira entre os rochedos abruptos dos píncaros. Por vezes é como a rua de uma grande cidade, cheia de ruído e distrações, e por vezes como a correnteza subterrânea, que vai por baixo das ruas, e leva para o mar a sujeira e os detritos da vida. Mas é sempre a oração.
Carlo Carreto

REFLEXÃO DO DIA - Terça-Feira 05/01

Quando saiu da barca, Jesus viu uma grande multidão e teve compaixão, porque eles estavam como ovelhas sem pastor. Então começou a ensinar muitas coisas para eles. Quando estava ficando tarde, os discípulos chegaram perto de Jesus e disseram: «Este lugar é deserto e já é tarde. Despede o povo, para que possa ir aos campos e povoados vizinhos comprar alguma coisa para comer.» Mas Jesus respondeu: «Vocês é que têm de lhes dar de comer.» Os discípulos perguntaram: «Devemos gastar meio ano de salário e comprar pão para dar-lhes de comer?» Jesus perguntou: «Quantos pães vocês têm? Vão ver.» Eles foram e responderam: «Cinco pães e dois peixes.» Então Jesus mandou que todos se sentassem na grama verde, formando grupos. E todos se sentaram, formando grupos de cem e de cinqüenta pessoas. Depois Jesus pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu, pronunciou a bênção, partiu os pães e ia dando aos discípulos, para que os distribuíssem. Dividiu entre todos também os dois peixes. Todos comeram, ficaram satisfeitos, e recolheram doze cestos cheios de pedaços de pão e também dos peixes. O número dos que comeram os pães era de cinco mil homens. (Mc 6,34-44)
Jesus tem pena da multidão. Ele se vê cercado de tantos estropiados: cegos, famintos, coxos, surdos, uma multidão de pobres. E muitos desses andavam atrás dele, mesmo no deserto, mesmo nas regiões mais inóspitas. Procuravam a cura. O Mestre levanta os olhos e o evangelista faz a seguinte observação: “Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas”.
Ovelhas sem pastor, pessoas sem ninguém para orientá-las de verdade na busca da água, do alimento, pessoas desprotegidas, entregues à própria sorte, cambaleantes, sem nada. Jesus tem compaixão dessa gente toda. E começa a ensinar. Ensina como quem tem sabedoria e não como os mestres que gostam de ouvir o que estão dizendo. Ensina tentando atingir o nó mais íntimo das pessoas.
Aí estão esses todos em nossos tempos: meninos que crescem em famílias esfaceladas, que nunca ouvirem de verdade falar da esperança que se chama Jesus. Aí estão estes todos preocupados com o consumo, com o dinheiro, com o aproveitar a vida, com seus audiofones, mascando chicletes, sem terem um pastor. Ovelhas sem pastor. Essas meninas e esses meninos das periferias candidatos à prostituição, ao comércio dos corpos e ao tráfico. Esses todos são ovelhas sem pastor.
Esses casados que empurram a vida para frente sem entusiasmo, sem compreenderem o sentido do matrimônio, sem se amarem como Cristo amou a Igreja. Ovelhas sem pastor. Esses tantos que se preparam para o batismo num cursinho de um dia... sem convicção, sem pertencerem a Cristo e a uma comunidade de fé. Todos esses ovelhas sem pastor. Quem vai cuidar deles?
Os que estavam no deserto atrás de Jesus precisavam comer. Conhecemos a lição do evangelho. Com o pouco que se tem se pode fazer o muito. Cinco pães e dois peixes não são suficientes para nada. O pouco que se tinha foi colocado junto e o olhar do Mestre atinge os céus e o pão e o peixe são largamente suficientes para todos. E ainda sobraram doze cestos de pães e de peixes. Pais e mães de família precisam partilhar a vida, ensinar, estar perto dos filhos, fazer-lhes o dom do tempo. Não se pode reclamar dos casamentos quando os bons não se dedicam a uma nova pastoral. Quando não há partilha do pouco que se tem. É evidente que a lição da conhecida multiplicação dos pães,“Jesus continua a ser “pão vivo” para a vida do mundo; a nós compete empenharmo-nos para que seja dado a todos, no dom material (alimento para o corpo) e no espiritual (Eucaristia). Em muitos casos o caminho do evangelizador parte da humanização e da libertação do pobres” (Missal Cotidiano da Paulus, p. 149).