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15 de jan. de 2010

O testamento da Dra Zilda Arns: um roteiro para construir a paz


O largo espaço concedido por todos os meios de comunicação à Dra. Zilda Arns são mais do que suficientes para se ter uma idéia do que ela representou para o resgate das crianças pobres. Por isso mesmo nos ateremos a uma análise do último parágrafo do que deveria ter sido o fecho de sua palestra no Haiti. Esse parágrafo é de uma densidade tal que se constitui num roteiro para os que se propõem a colaborar na construção de uma paz verdadeira. Talvez não seja exagero dizer que Deus a inspirou quando escreveu o parágrafo que segue, para que fosse seu testamento, um legado para todos.
"A construção da paz começa no coração das pessoas e tem seu fundamento no amor, que tem suas raízes na gestação e na primeira infância e se transforma em fraternidade e responsabilidade social. A paz é uma conquista coletiva. Tem lugar quando encorajamos as pessoas, quando promovemos os valores culturais e éticos, as atitudes e práticas do bem comum".
Para desentranhar um pouco da riqueza dessas frases, talvez convenha dividi-las em pequenos segmentos.

1. A construção da paz começa no coração das pessoas. À primeira vista essa afirmação parece um tanto deslocada no espaço e no tempo. Desde que, sobretudo a partir da década de 1970, com razão, se deu grande importância aos fatores econômicos e políticos para se chegar a um equilíbrio social, já não é tão comum ouvir alusões a esse nível. Claro que os mecanismos apontados são de extrema importância. Daí também a importância de um Estado regulador. E no entanto, quem conhece a riqueza bíblica da palavra "coração", logo vai associá-la à "conversão". Muito se discutiu há algumas décadas sobre o que seria mais importante: a conversão das pessoas ou das estruturas. Hoje a melhor resposta certamente é essa: ambas são de extrema importância para se conseguir a construção da paz. Corações endurecidos serão uma eterna barreira para qualquer passo realmente decisivo onde não reine mais o ódio, mas o amor.

2. ... e tem seu fundamento no amor. Com certeza muito se fala no amor. E no entanto existem muitos amores diferentes. Amor romântico, amor sentimental, amor paixão. Evidentemente que esses sentimentos podem exercer um papel significativo na construção da paz inter pessoal e social. Acontece que hoje, mesmo em se falando muito de amor, se acredita mesmo é na força das ciências e das tecnologias. Nelas parece encontrar-se a solução de todos os problemas humanos. Ora, por mais que devamos nos alegrar com os inegáveis avanços, sem um determinado amor, que é o amor no sentido evangélico do termo, corremos o risco de sermos levados exatamente no sentido contrário ao da paz. O verdadeiro amor humano sempre tem um pano de fundo: um olhar para o outro e os outros, para o diferente, e até para o estranho, mas com os olhos de Deus.

3. ... que tem suas raízes na gestação e na primeira infância. Na linha de raciocínio expressa na frase logo acima, a gestação da qual a "mãe das crianças" fala, não é certamente aquela transmissão fria que acontece nos gélidos laboratórios, onde se refugiam muitos interesses estranhos ao amor. A mecanização da vida se torna a cada dia mais uma realidade. As conseqüências ainda irão se manifestar com maior evidência quando os filhos da proveta forem crescendo. Como irão se entender? Como irão se situar no mundo e na sociedade? Quais serão seus sentimentos dominantes? Ninguém sabe. Ninguém põe em dúvida os relevantes serviços que os laboratórios prestam e podem prestar, mas desde subsidiem, e não substituam o casal. Fatos recentes ocorridos neste campo e em nosso meio são um alerta de que as tentações são muito grandes. A gestação que é fruto de um gesto concreto de amor já tem um ponto de partida completamente diferente. Hoje se admite tranqüilamente que esse primeiro gesto já pode deixar marcas positivas ou negativas.

4. ...se transforma em fraternidade e responsabilidade social. A fraternidade parece ser uma das aspirações que acompanham a humanidade. Por outro lado, porém, ela se sente continuamente ameaçada pelas rivalidades, pelo ódio, e pela guerra. Em algum lugar do mundo sempre há conflitos mais ou menos sangrentos. Ora a conflitividade, que de alguma forma é constitutiva da nossa condição humana remete, entre outros fatores, para a falta de um ambiente familiar, onde o amor seja cultivado com muito empenho. E é nesse somente neste clima que se pode esperar uma responsabilidade social das pessoas. A irresponsabilidade manifesta em tantos aspectos na sociedade não será superada por atitude madura através de meras imposições. A responsabilidade social só se conjuga com a busca constante de fraternidade e esta na busca constante pela vida profunda no amor.
5. A paz é uma conquista coletiva. O velho imperativo romano "se queres a paz, faze a guerra" na realidade parece mover a mentalidade de um significativo número de líderes mundiais. Os exemplos ainda quentes das invasões do Oriente Médio comprovam isso. Algumas pessoas, tentando imitar Napoleão Bonaparte, buscam, por todos os modos colocar sobre sua cabeça uma coroa, símbolo de uma missão messiânica. São os eternos salvadores da pátria. Se auto atribuem a si próprios, única e exclusivamente, as conquistas, e lançam sobre os inimigos eventuais derrotas. Entretanto, num curto espaço de tempo, como Napoleão, assim todos os que se auto investem acabam descobrindo sua verdadeira estatura. São pessoas pequenas para uma tarefa tão ingente, como essa de construir a paz. A paz sempre resulta de inúmeros esforços, de inúmeras gerações, que cultivam basicamente os mesmos sonhos e respeitam os mesmos valores.

6. ... tem lugar quando encorajamos as pessoas, quando promovemos os valores culturais e éticos, as atitudes e práticas do bem comum. Muito se fala sobre as possibilidades de um mundo novo. Sem dúvida ele é possível. Contudo, a construção de um mundo novo pressupõe que as pessoas sejam incentivadas a preservar seus valores culturais e éticos. Ora, o que se percebe sempre de novo é o retorno da mesma tentação de alguns grupos julgarem que o mundo está começando com eles. Ou seja, passam por cima da cultura, pretendem inventar novos parâmetros éticos. Com isso em vez de um mundo novo o que vai se desenhando no horizonte são os traços dos mesmos fracassos de outras tentativas semelhantes. Há valores que vão além das convenções e até mesmo das culturas. Com a mansidão de sua voz e sua clara opção inspirada no Evangelho a Dra. Zilda deixa um legado de extrema atualidade. Ela bem sabia o que acontece com os que constroem sobre a areia. Esse é seu testamento: construir sobre a rocha dos valores que se encontram tão bem expressos no Sermão da Montanha.
Dr. Frei Antônio Moser, Teólogo

Como você corrige as pessoas?

Lembre-se de que lidamos com pessoas e não com gado

Como você corrige seu filho, seu esposo, sua esposa, seu empregado, seu colega, seu subordinado de modo geral? É um dever e uma necessidade corrigir aqueles a quem amamos, mas isso precisa ser feito de maneira correta. Toda autoridade vem de Deus e em Seu nome deve ser exercida; por isso, com muito jeito e cautela.
Não é fácil corrigir uma pessoa que erra; apontar o dedo para alguém e dizer-lhe: "Você errou!", dói no ego da pessoa; e se a correção não for feita de modo correto pode gerar efeito contrário. Se esta for feita inadequadamente pode piorar o estado da pessoa e gerar nela humilhação e revolta. Nunca se pode, por exemplo, corrigir alguém na frente de outras pessoas, isso a deixa humilhada, ofendida e, muitas vezes, com ódio de quem a corrigiu. E, lamentavelmente, isso é muito comum, especialmente por parte de pessoas que têm um temperamento intempestivo (“pavio curto”) e que agem de maneira impulsiva. Essas pessoas precisam tomar muito cuidado, porque, às vezes, querendo queimar etapas, acabam queimando pessoas. Ofendem a muitos.
Quem erra precisa ser corrigido, para seu bem, mas com elegância e amor. Há pais que subestimam os filhos, os tratam com desdém, desprezo. Alguns, ao corrigi-los, o fazem com grosseria, palavras ofensivas e marcantes. O pior de tudo é quando chamam a atenção dos filhos na presença de outras pessoas, irmãos ou amigos, até do (a) namorado (a). Isso o (a) humilha e o (a) faz odiar o pai e a mãe. Como é que esse (a) filho (a), depois, vai ouvir os conselhos desses pais? O mesmo se dá com quem corrige um empregado ou subordinado na frente dos outros. É um desastre humano!
Gostaria de apontar aqui três exigências para corrigir bem uma pessoa:
1 – Nunca corrigir na frente dos outros
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Ao corrigir alguém, deve-se chamá-lo a sós, fechar a porta da sala ou do quarto, e conversar com firmeza, mas com polidez, sem gritos, ofensas e ameaças, pois este não é o caminho do amor. Não se pode humilhar a pessoa. Mesmo a criança pequena deve ser corrigida a sós para que não se sinta humilhada na frente dos irmãos ou amigos. Se for adulto, isso é mais importante ainda. Como é lamentável os pais ou patrões que gritam corrigindo seus filhos ou empregados na frente dos outros! Escolha um lugar adequado para corrigir a pessoa.
Gostaria de lembrar que a Igreja, como boa Mãe, garante a nós o sigilo da Confissão, de maneira extrema. Se o sacerdote revelar nosso pecado a alguém, ele pode ser punido com a pena máxima que a instituição criada por Cristo pode aplicar: a excomunhão. Isso para proteger a nossa intimidade e não permitir que a revelação de nossos erros nos humilhe. E nós? Como fazemos com os outros? Só o fato de você dar a privacidade à pessoa a ser corrigida, ao chamá-la a sós, ela já estará mais bem preparada para a correção a receber, sem odiá-lo.
2 – Escolha o momento certo.
Não se pode chamar a atenção de alguém no momento em que a pessoa errada está cansada, nervosa ou indisposta. Espere o melhor momento, quando ela estiver calma. Os impulsivos e coléricos precisam se policiar muito nestes momentos porque provocam tragédias no relacionamento. Com o sangue quente derramam a bílis – às vezes mesmo com palavras suaves – sobre aquele que errou e provocam no interior deste uma ferida difícil de cicatrizar. Pessoas assim acabam ficando malvistas no seu meio. Pais e patrões não podem corrigir os filhos e subordinados dessa forma, gritando e ofendendo por causa do sangue quente. Espere, se eduque, conte até 10 dez, vá para fora, saia por um tempo da presença do que errou; não se lance afoito sobre o celular para o repreender “agora”. Repito: a correção não pode deixar de ser feita; a punição pode ser dada, mas tudo com jeito, com galhardia. Estamos tratando com gente e não com gado.
3 – Use palavras corretas.
Às vezes, um "sim" dito de maneira errada é pior do que um "não" dito com jeito. Antes de corrigir alguém, saiba ouvi-lo no que errou; dê-lhe o direito de expor com detalhes e com tempo o que fez de errado, e por que fez aquilo errado. É comum que o pai, o patrão, o amigo, o colega, precipitados, cometam um grave erro e injustiça com o outro. O problema não é a correção a aplicar, mas o jeito de falar, sem ofender, sem magoar, sem humilhar, sem ferir a alma.
Eu era professor em uma Faculdade, e um dos alunos veio me dizer que perdeu uma das provas e que não podia trazer atestado médico para justificar sua falta. Ter que fazer uma prova de segunda chamada, apenas para um aluno, me irritava. Então, eu lhe disse que não lhe daria outra prova. Quando ele insistiu, fui grosseiro com ele, até que ele pôde se explicar: “Professor, é que eu uso um olho de vidro, e no dia da sua prova o meu olho de vidro caiu na pia e se quebrou; por isso eu não pude fazer a prova”. Fiquei com “cara de tacho” e lhe pedi mil desculpas.
Nunca me esqueci de uma correção que o meu pai nos deu quando eu e meus oito irmãos éramos ainda pequenos. De vez em quando nós nos escondíamos para fumar escondidos dele. Nossa casa tinha um quintal grande e um pequeno quarto no fundo do quintal; lá a gente se reunia para fumar.
Um dia nosso pai nos pegou fumando; foi um desespero... Eu achei que ele fosse dar uma surra em cada um; mas não, me lembro exatamente até hoje, depois de quase cinquenta anos, a bela lição que ele nos deu. Lembro-me bem: nos reuniu no meio do quintal, em círculo, depois pediu que lhe déssemos um cigarro; ele o pegou, acendeu-o, deu uma tragada e soprou a fumaça na unha do dedo polegar, fazendo pressão, com a boca quase fechada. Em seguida, mostrou a cada um de nós a sua unha amarelada pela nicotina do cigarro. E começou perguntando: “Vocês sabem o que é isso, amarelo? É veneno; é nicotina; isso vai para o pulmão de vocês e faz muito mal para a saúde. É isso que vocês querem?”
Em seguida ele não disse mais nada; apenas disse que ele fumava quando era jovem, mas que deixou de fazê-lo para que nós não aprendêssemos algo errado com ele. Assim terminou a lição; não bateu em ninguém e não xingou ninguém; fomos embora. Hoje nenhum de meus irmãos fuma; e eu nunca me esqueci dessa lição. São Francisco de Sales, doutor da Igreja, dizia que “o que não se pode fazer por amor, não deve ser feito de outro jeito, porque não dá resultado”.
E se você magoou alguém, corrigindo-o grosseiramente, peça perdão logo; é um dever de consciência.
Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

REFLEXÃO DO DIA - Sexta-Feira 15/01

Alguns dias depois, Jesus entrou de novo na cidade de Cafarnaum. Logo se espalhou a notícia de que Jesus estava em casa. E tanta gente se reuniu aí que já não havia lugar nem na frente da casa. E Jesus anunciava a palavra. Levaram então um paralítico, carregado por quatro homens. Mas eles não conseguiam chegar até Jesus, por causa da multidão. Então fizeram um buraco no teto, bem em cima do lugar onde Jesus estava, e pela abertura desceram a cama em que o paralítico estava deitado. Vendo a fé que eles tinham, Jesus disse ao paralítico: «Filho, os seus pecados estão perdoados.» Ora, alguns doutores da Lei estavam aí sentados, e começaram a pensar: «Por que este homem fala assim? Ele está blasfemando! Ninguém pode perdoar pecados, porque só Deus tem poder para isso!» Jesus logo percebeu o que eles estavam pensando no seu íntimo, e disse: «Por que vocês pensam assim? O que é mais fácil dizer ao paralítico: ‘Os seus pecados estão perdoados’, ou dizer: ‘Levante-se, pegue a sua cama e ande?’ Pois bem, para que vocês saibam que o Filho do Homem tem poder na terra para perdoar pecados, - disse Jesus ao paralítico - eu ordeno a você: Levante-se, pegue a sua cama e vá para casa.» O paralítico então se levantou e, carregando a sua cama, saiu diante de todos. E todos ficaram muito admirados e louvaram a Deus dizendo: «Nunca vimos uma coisa assim!» (Mc 2,1-12)

Nossos tempos não gostam muito de ouvir falar em pecado. É pecado falar de pecado. Na verdade houve uma época em que se exagerou. Tudo era pecado e pecado, quase sempre grave. Insistia-se muito na recepção dos sacramento da confissão, quase de forma compulsória, quase a cada vez que se queria comungar. Caímos hoje no outro extremo: nada mais é pecado, vale tudo e não há necessidade da confissão sacramental. Marcos, no evangelho de hoje, narra o episódio do paralítico que é descido pelo teto até o lugar onde se encontrava Jesus. Jesus cura o doente e lhe dá o perdão dos pecados, que, aliás, ele não tinha pedido. Jesus é aquele que perdoa os pecados. Marcos vai descrevendo o perfil do Mestre.
Somos todos convidados a realizar a conversão em nossa vida cristã. Vivemos ( ou deveríamos viver) num estado de penitência.Constantemente reconhecemos nossas fragilidades e nosso pecado e nos voltamos sempre para paixão, morte e ressurreição de Jesus que nos obtiveram a vida nova. Todos os que não conservamos a veste batismal intacta servimo-nos do ato penitencial da missa, de prática obras de caridade e de penitência, fazemos constantemente atos de contrição para que nosso coração não se distancie da vida e não sejamos novamente enredados nas malhas do absurdo e das trevas. A Igreja nos ensina que pelo sacramento da penitência os fiéis obtém da misericórdia divina o perdão da ofensa feita a Deus e aos irmãos e ao mesmo tempo nos reconcilia com a Igreja.
Jesus é o cordeiro que tira o pecado do mundo e as graças do cordeiro, confiadas à Igreja, redundam na possibilidade de se refazer o tecido espiritual desfeito com a culpa consentida pelo manto da misericórdia que se exprime no perdão. O Senhor deixa de levar em consideração nossa falta... Vale aqui transcrever algumas linhas da introdução ao rito da penitência: “O discípulo de Cristo que, após o pecado, se aproxima, movido pelo Espírito Santo, do sacramento da penitência, deve, antes de tudo, voltar-se para Deus de todo o coração. Esta conversão interior que compreende a contrição do pecado e o propósito de uma vida nova, se expressa pela confissão feita à Igreja, pela necessária satisfação e pela mudança de vida. E Deus concede a remissão dos pecados, por meio da Igreja, que atua pelo ministério dos sacerdotes” (n.6).
Uma Igreja em estado de conversão... Há esses que se preparam para o batismo ou aqueles que querem renovar essa graça. Eles estão em estado de penitência. Há as súplicas no decorrer da missa em que pedimos perdão e propomo-nos a mudar de vida. Há os momentos de cruz em nossa vida em que, de alguma forma, oferecemos o sofrer pela remissão dos nossos pecados e dos pecados do mundo. Há o sacramento da reconciliação, do perdão, da confissão. O amor de Deus inventou esse carinho e esse gesto de misericórdia. Através do ministério dos sacerdotes podemos celebrar o perdão que nos é dado no aqui e agora de nossa vida.
Jesus cura o paralítico e perdoa seus pecados...