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6 de jan. de 2010

06 de janeiro - Dia de Reis e da Epifania do Senhor


O "Dia de Reis" é uma das festas tradicionais mais singelas celebrada em todo o mundo católico. Neste dia se comemora a visita de um grupo de reis magos (Mt 2 1 -12), vindos do Oriente, para adorar a "Epifania do Senhor". Ou seja, o nascimento de Jesus, o Filho por Deus enviado, para a salvação da humanidade.
O termo "mago" vem do antigo idioma persa e serviu para indicar o país de suas origens: a Pérsia. Eram reis, porque é um dos sinônimos daquela palavra, também usada para nomear os sábios discípulos de uma seita que cultuava um só Deus. Portanto, não eram astrólogos nem bruxos, ao contrário, eram inimigos destas enganosas artes mágicas e misteriosas.
Esses soberanos corretos, esperavam pelo Salvador, expectativa já presente mesmo entre os pagãos. Deus os recompensou pela retidão com a maravilhosa estrela, reconhecida pela sabedoria de suas mentes como o sinal a ser seguido, para orientação dos seus passos até onde se achava o Menino Deus.
Foram eles que mostraram ao mundo o cumprimento da profecia de séculos, chegando no palácio do rei Herodes, de surpresa e perguntando "pelo Messias, o recém-nascido rei dos judeus". Nesta época aquele tirano reprimia a população pelo medo, com ira sanguinária. Mas os magos não o temeram, prosseguiram sua busca e encontraram o Menino Deus.
A Bíblia diz que os magos chegaram à casa e viram o Menino com sua Mãe. Isto porque José já tinha providenciado uma moradia muito pobre, mas mais apropriada, do que a gruta de Belém onde Jesus nascera. Alí, os reis magos, depois de adorar o Messias, entregaram os presentes: ouro, incenso e mirra. O ouro, significa a realeza de Jesus; o incenso, sua essência divina e a mirra, sua essência humana. Prestada a homenagem, voltaram para suas nações, evitando novo contato com Herodes, como lhes indicou o anjo do Senhor.
A tradição dos primeiros séculos, seguindo a verdade da fé, evidenciou que eram três os reis magos: Melquior, Gaspar e Baltazar. Até o ano 474 seus restos estiveram sepultados em Constantinopla, a capital cristã mais importante do Oriente, depois foram trasladados para a catedral de Milão, na Itália. Em 1164 foram transferidas para a cidade de Colônia, na Alemanha, onde foi erguida a belíssima Catedral dos Reis Magos, que os guarda até hoje.
No século XII, com muita inspiração, São Beda, venerável doutor da Igreja, guiado por uma inspiração, descreveu o rosto dos três reis magos, assim: "O primeiro, diz, foi Melquior, velho, circunspecto, de barba e cabelos longos e grisalhos... O segundo tinha por nome Gaspar e era jovem, imberbe e louro... O terceiro, preto e totalmente barbado chamava-se Baltazar (cfr. "A Palavra de Cristo", IX, p. 195)".
Deus revelou seu Filho ao mundo e ordenou que o acatassem e seguissem. Os reis magos fizeram isto com toda humildade, gesto que simboliza o reconhecimento do mundo pagão desta Verdade. Isso é o mais importante a ser festejado nesta data. A revelação, isto é, a Epifania, que confirma a divindade do Santo Filho de Deus feito homem, que no futuro sacrificaria a própria vida em nome da salvação de todos nós.

Deus ultrapassa tudo o que podemos imaginar...

Gostaria de dirigir estas linhas a todos os jovens, garotas e rapazes. Uma garota talvez possa compreender-me melhor a partir do interior, se infelizmente lhe aconteceu uma experiência como a minha. Que estas palavras sejam para você uma mensagem de esperança.
Partilhando com vocês essa passagem da minha vida gostaria, antes de tudo, de dar graças a Nosso Senhor, que me salvou e me permitiu renascer, pelo seu Amor que ultrapassa todo amor. Gostaria também de gritar: “Respeitem o outro no seu corpo, na sua intimidade. Respeitem a si mesmo também”.
Tenho vinte e oito anos. Tinha treze quando me aconteceu o que vou lhes contar. Quinze anos se passaram e eu nada esqueci. Todo o “filme” desse fato que dilacerou a minha vida está gravado em mim para sempre. Óbvio, pois foi escrito não sobre a “rocha”, mas sobre “argila em formação”, numa página branca, virgem. Mas agora, através do amor de Jesus, tudo se transformou.
Aos treze anos eu ainda era uma “menininha”. Feliz da vida, sem problemas, querendo amar o mundo inteiro, mas querendo amar a Deus mais que tudo, com toda a força do meu pequeno coração. Utopia? Não, não creio. É a ingenuidade das “crianças”. Possível, então? Sim, ainda hoje eu penso, apesar da dureza deste mundo, graças à força de Deus.
Frequentemente eu dizia a mim mesma: “Eu quero permanecer pura até o casamento. Entretanto, eu sentia no coração um chamado para amar só a Deus durante toda a minha vida. Parecia-me que só Deus poderia saciar toda a sede de amor que havia em mim. E eis que, de repente, numa esquina, sou, gratuitamente e sem razão, vítima de toda a violência de um ser humano. Era uma sexta-feira, uma hora de torturas sexuais, de gestos, um lugar, gravados para sempre. Palavras como: “Eu quero matá-la”, que ferem atrozmente. Eu estava encurralada entre algumas tábuas e o muro de um cemitério. Ninguém para socorrer-me. Como eu gostaria de ir ao encontro daqueles mortos do outro lado do muro... O que pode fazer uma menina de treze anos para se defender da maldade de um homem de vinte ou vinte e cinco anos? Nada. Eu desejava o nada. Aquele Jesus que havia feito um apelo ao meu coração ficara surdo de repente? Por que tudo aquilo? Por que tanta violência? Quantas perguntas fiz a mim mesma... Durante onze anos! Onze anos, como é longo! Creia-me. Principalmente quando você carrega esse peso sozinha...
Quando cheguei em casa – meus pais estavam ausentes por alguns dias –, eu só tinha uma idéia na cabeça: a morte. Tentei o suicídio... Acordei após ter dormido por dois dias. Mas a idéia do suicídio não me deixava e não me deixaria tão cedo. Eu não era a mesma pessoa. Havia um “antes” e havia um “depois”. Esse “depois”, eu o detestava de antemão. Eu me detestava. Eu me tornara um lixo. Um corpo e um coração sem gosto pela vida. Um coração? Não sei se eu ainda possuía um. Todo amor que ele até aí guardara transformou-se em ódio contra o ser humano, principalmente contra o sexo masculino.
Então, por que continuar a viver se eu não era mais nada? Apenas a morte poderia libertar-me. Era o que eu pensava. Essa idéia me perseguia com tenacidade. Os dias corriam sem me trazer nada de novo. Jesus, a fé, tudo em que até então eu crera de repente evaporou. Não havia mais amor em mim. Por ninguém. Nem por mim. A segunda tentativa de suicídio também fracassou. Então, forjei uma barricada em torno de mim. Essa barricada, eu a queria o mais resistente possível para que ninguém, nunca, encontrasse nela uma brecha. Meus pais não entenderam a mudança. Meu caráter foi se tornando cada vez mais duro. Eu me sentia mal, muito mal por estar assim, mas era quase contra a minha vontade. Eu era vítima e me sentia culpada. Quantas vezes, durante o sono, revivi a cena do estupro. Era indelével. Gostaria de ter matado aquele homem.
Não era mais necessário que me falassem de Deus; eu projetava nele toda a minha tristeza, todo o meu desgosto. Era quase culpa dele o que me acontecera, pois Ele não tinha ido me libertar. Agora, eu compreendo como durante todo esse tempo Ele sofria comigo, pois Deus é amor. Ele nos mostra isso todos os dias, mostrou-o na minha própria vida.
Os anos passaram. Pouco a pouco eu recomecei a rezar. Sem perceber, creio, pois eu me sentia terrivelmente só. Eu procurava alguém a quem falar. Hoje posso dizer que nunca, nem por um segundo, o Senhor largou a minha mão. Fui eu que larguei a dele. O Senhor podia restituir-me a pureza que eu perdera sem querer. Apenas Ele podia me recriar.
No final desses onze anos de desgosto, de tristeza, encontrei um padre com quem pude me abrir. Através do sacramento da reconciliação, através de seu coração, pude dar para Jesus todo o ódio acumulado, e pouco a pouco, com a ajuda do Senhor, recuperei a paz. Jesus tinha encontrado uma brecha na barricada que eu havia levantado com a força dos meus braços. Suavemente, mas com firmeza, Ele fez seu trabalho de Salvador. Ele não parava de chamar-me pelo meu nome. Para Ele eu era como sempre uma criança. Eu era como antes. Em alguns meses a barricada desmoronou. O Senhor só desejava uma coisa: poder morar no meu coração para me dar incessantemente o seu amor. Ele repetia sem cessar: “Você é única aos meus olhos e eu a amo” (Is 43,4).
Eu precisava deixar-me amar. Mas isso era muito duro para mim. Eu precisava tornar-me criança outra vez. Santa Teresa do Menino Jesus ajudou-me muito: “Quanto mais você for pobre, mais Jesus a amará. Se você se afastar Ele irá longe, bem longe, buscá-la...”.
Compreendi também que no madeiro da cruz Jesus havia assumido todos os meus sofrimentos. Esse sofrimento oferecido permitiu que, por minha vez, pouco a pouco, eu lhe oferecesse o meu. Isso não aconteceu num só dia. Foram necessárias horas e horas de doçura, de delicadeza, de paciência por parte do Senhor para reabilitar-me comigo mesma.
Eu readquiria a alegria de viver. Um dia, ao assumir o meu serviço no hospital, tive uma enorme surpresa. Diante de mim, num leito de doente... ele! Aquele rapaz que tanto me fizera sofrer, que desejara matar-me, contra quem secretamente eu alimentara um ódio incrível, estava lá, naquele leito de hospital, sofrendo, pobre e enfraquecido.
Durante onze anos, mesmo sem revê-lo, seu rosto ficara gravado em mim e agora ele surgia novamente na minha vida. Passado o choque da surpresa eu compreendi que, teoricamente, deveria cuidar dele. Na prática, aquilo parecia estar acima das minhas forças. Ele estava lá, nas minhas mãos, à minha disposição, esperando – como doente – que eu o aliviasse.
Então, todo o ódio que eu sentia por ele e que começava a atenuar-se, tornou-se mais forte, mais lancinante, mais presente. Eu podia vingar-me: eu podia matá-lo. E não se tratava de palavras vãs. Eu poderia muito bem injetar-Ihe algo em dose mortal. Pensei nisso. Desde o início. Pensava nisso à noite, em casa, sabendo que no dia seguinte o reencontraria. Eu pensava que, matando-o, me sentiria livre para sempre.
Eu sentia que Jesus me pedia para perdoar. Mas isso parecia estar além das minhas forças. Houve uma luta em mim em relação a esse perdão. Eu iria dá-lo ou recusá-lo? Eu pensava que perdoá-lo não mudaria nada para mim, não apagaria o que eu tinha vivido. Então, para quê? Mas, se eu o recusasse, estaria uma vez mais fechando a porta do meu coração ao amor de Jesus. Ele não nos pediu para perdoar os nossos inimigos? Por outro lado, recusando-me a dar esse perdão, eu sabia que estaria “mantendo” no pecado, longe de Deus, esse moço que me agredira. Mas eu continuava evitando... Então, levei tudo isso para a oração, pedindo uma só coisa: que eu fosse verdadeira ao conceder esse perdão. Que ele fosse realmente o desejo do meu coração e a vontade do Senhor. Eu também me confiei à Mãe do Céu, pedindo-Ihe para tornar o meu coração dócil ao espírito de Jesus.
Um belo dia, pude colher esse perdão como uma flor que acaba de desabrochar, e oferecê-lo a Jesus no sacramento da reconciliação. Uma paz imensa invadiu-me. É verdade que não foi um passe de mágica que me fez esquecer tudo que eu vivera; mas, oferecendo esse perdão, tudo foi transformado. Eu quero assegurar-lhe que foi o Senhor, por sua graça, que me permitiu dar-Ihe o perdão. Sem Ele meu coração nunca teria consentido em perdoar. Eu sou tão pobre...
Eis as maravilhas do amor do Senhor. Você não acha que ele ultrapassa tudo o que podemos imaginar? Você não acha que ele está sempre ao nosso alcance? Que vale a pena percorrer com ele um trecho do caminho para conhecê-lo melhor?
Eis o mais belo milagre do Senhor: “Ele transforma em estrelas os seus pontos negros... se você lhe dá um pouco do seu coração!”.

Transcrito de: Ange, Daniel. Teu corpo feito para o amor.
São Paulo: Loyola, 1995, pp. 184-189.

REFLEXÃO DO DIA - Quarta-Feira (06/01)

Logo em seguida Jesus obrigou os discípulos a entrar na barca e ir na frente para Betsaida, enquanto ele despedia a multidão. Logo depois de se despedir da multidão subiu ao monte para rezar. Ao anoitecer, a barca estava no meio do mar e Jesus sozinho em terra. Viu que os discípulos estavam cansados de remar, porque o vento era contrário. Então, entre as três e as seis horas da madrugada, Jesus foi até os discípulos andando sobre o mar, e queria passar na frente deles. Quando os discípulos o avistaram andando sobre o mar, pensaram que era um fantasma e começaram a gritar. Com efeito, todos o tinham visto e ficaram assustados. Mas Jesus logo falou: «Coragem! Sou eu, não tenham medo!» Então subiu com eles na barca. E o vento parou. Mas os discípulos ficaram ainda mais espantados, porque não tinham compreendido o acontecimento dos pães. O coração deles estava endurecido. (Mc 6,45-52)

Viver é sempre um desafio. São poucos os que vivem em plenitude. Viver cristãmente poderia até ser mais simples, mas por vezes é mais complicado. Somos mais complicadores do que simplificadores. Conhecemos desânimo, incompreensões, cansaço, insucessos, como os apóstolos que se meteram a remar com dificuldade porque o vento lhes era contrário. Há ventos adversos em nossos projetos de vida.
A multiplicação dos pães deve ter sido um fato extremamente impressionante. Na sua simplicidade, o evangelista Marcos afirma que, após o evento, Jesus obrigou os discípulos a irem adiante, enquanto ele ia despedindo a multidão. A tradução emprega obrigou. Talvez essa gente toda quisesse mais milagres e os apóstolos poderiam pensar que o Messias viera para fazer coisas mirabolantes. Ou será que as pessoas ficaram para agradecer?
‘Quando as coisas serenaram Jesus “subiu ao monte para rezar”. Sim, depois de tanta agitação compreende-se que ele tenha experimentado necessidade de estar a sós com o Pai. Não dá para viver no frenesi da agitação o tempo tudo. Estressa, cansa, esvazia a pessoa por dentro.
Diz Marcos que, pelas 3 horas da madrugada, “Jesus foi ter com eles andando pela água”. Nesse momento a página de Marcos ganha dramaticidade. Jesus parecia um fantasma, os apóstolos começam a gritar, ficam assustados, experimentam medo. Parecem perdidos.
Como perdidos estão os pais quando os filhos estão nas drogas, perdidos os agentes de pastoral quando não conseguem atingir o coração dos fiéis, perdidos os casais que não sabem mais construir a conjugalidade, perdidos os cristãos que não conseguem chegar à santidade.
A parte central do texto é mensagem de esperança: “Coragem, sou eu! Não tenhais medo”. Jesus sobe na barca. Tudo se acalma. O vento cessa e chega a bonança.
Pela fé, no coração de todos os desafios existenciais, o cristão sabe que Cristo se faz presente. A barca da vida não soçobra. Os projetos que empreendemos vão ter sucesso porque Jesus está por perto.
Marcos termina o texto com duas observações. Insiste que os discípulos experimentam um novo espanto. Não bastou a questão da multiplicação dos pães. Agora Jesus anda sobre as águas. E a outra observação que parece vincular medo, espanto com a falta de fé. “O coração deles estava endurecido”. Estamos diante do grave tema do endurecimento do coração. Na medida em que, numa postura de simplicidade humilde, o fiel faz atos de fé, à maneira de Abraão, à maneira dos cegos e paralíticos miraculados, o coração não se torna pedra. O orgulho e a auto-suficiência jactanciosa impedem que a graça penetre.