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11 de jul. de 2010

Pecados públicos

Não reclamo. Apenas constato. Tem ficado cada vez mais difícil a gente se reconciliar com os erros cometidos. O motivo é simples. A vida privada acabou. O acontecimento particular passa a pertencer a todos. A internet é um recurso para que isso aconteça. Os poucos minutos noticiados não cairão no esquecimento. Há um modo de fazê-los perdurar. Quem não viu poderá ver. Repetidas vezes. É só procurar o caminho, digitar uma palavra para a busca.
Tudo tem sido assim. A socialização da notícia é um fato novo, interessantíssimo. Possibilita a informação aos que não estavam diante da TV no momento em que foi exibida.
A internet nos oferece uma porta que nos devolve ao passado. Fico fascinado com a possibilidade de rever as aberturas dos programas do meu tempo de infância. As imagens que permaneciam vivas no inconsciente reencontram a realidade das cores, movimentos e dos sons.
Mas o que fazer quando a imagem disponível refere-se ao momento trágico da vida de uma pessoa? Indigência exposta, ferida que foi cavada pelos dedos pontiagudos da fragilidade humana? Ainda é cedo para dizer. Este novo tempo ainda balbucia suas primeiras palavras.
O certo é que a imagem eterniza o erro, o deslize. Ficará para posteridade. Estará resguardada, assim como o museu resguarda documentos que nos recordam a história do mundo.
Coisas da contemporaneidade. Os recursos tecnológicos nos permitem eternizar belezas e feiuras.
Uma fala sobre o erro. Eles nascem de nossa condição humana. Somos falíveis. É estatuto que não podemos negar. Somos insuficientes, como tão bem sugeriu o filósofo francês Blaise Pascal. O bem que conhecemos nem sempre atinge nossas ações. Todo o mundo erra. Uns mais, outros menos. Admitir os erros é questão de maturidade. Esperamos que todos o façam. É nobre assumir a verdade, esclarecer os fatos. Mais que isso. É necessário assumir as consequências jurídicas e morais dos erros cometidos. Não se trata de sugerir acobertamento nem de solicitar que afrouxem as regras. Quero apenas refletir sobre uma das inadequações que a vida moderna estabeleceu para a condição humana.
Tenho aprendido que o direito de colocar uma pedra sobre o erro faz parte de toda experiência de reconciliação pessoal. Virar a página, recomeçar, esquecer o peso do deslize é fundamental para que a pessoa possa ser capaz de reassumir a vida depois da queda. É como ajeitar uma peça que ficou sem encaixe. O prosseguimento requer adequação dos desajustes. E isso requer esquecer. Depois de pagar pelo erro cometido a pessoa deveria ter o direito de perder o peso da culpa. O arrependimento edifica, mas a culpa destrói.
Mas como perder o malefício do erro se a imagem perpetua no tempo o que na alma não queremos mais trazer? Nasce o impasse. O homem hoje perdoado ainda permanecerá aprisionado à imagem. A vida virtual não liberta a real, mas a coloca na perspectiva de um julgamento eterno. A morbidez do momento não se esvai da imagem. Será recordada toda vez que alguém se sentir no direito de retirar a pedra da sepultura. E assim o passado não passa, mas permanece digitalizado, pronto para reacender a dor moral que a imagem recorda.
Estamos na era dos pecados públicos. Acusadores e defensores se digladiam nos inúmeros territórios da vida virtual. Ambos a acenderem o fogo que indica o lugar onde a vítima padece. A alguns o anonimato os encoraja. Gritam suas denúncias como se estivessem protegidos por uma blindagem moral. Como se também não cometessem erros. Como se estivessem em estado de absoluta coerência. No conforto de suas histórias preservadas, empunham as pedras para atacar os eleitos do momento.
O fato é que o pecador público exerce o papel de vítima expiatória social. Nele todas as iras são depositadas porque nele todas as misérias são reconhecidas. No pecado do outro nós também queremos purgar o pecado que está em nós. Em formatos diferentes, mas está. Crimes menores, maiores; não sei. Mas crimes. Deslizes diários que nos recordam que somos território da indigência. O pecador exposto na vitrine deixa de ser organismo. Em sua dignidade negada ele se transforma em mecanismo de purificação coletiva. É preciso cautela. Nossos gritos de indignação nem sempre são sinceros. Podem estar a serviço de nossos medos. Ao gritar a defesa ou a condenação podemos criar a doce e temporária sensação de que o erro é uma realidade que não nos pertence. Assumimos o direito de nos excluir da classe dos miseráveis, porque enquanto o pecador permanecer exposto em sua miséria, nós nos sentiremos protegidos.
Mas essa proteção que não protege é a mãe da hipocrisia. Dela não podemos esperar crescimento humano, tampouco o florescimento da misericórdia. Uma coisa é certa. Quando a misericórdia deixa de fazer parte da vida humana, tudo fica mais difícil. É a partir dela que podemos reencontrar o caminho. O erro humano só pode ser superado quando aquele que erra encontra um espaço misericordioso que o ajude a reorientar a conduta.
Nisso somos todos iguais. Acusadores e defensores. Ou há alguém entre nós que nunca tenha necessitado de ser olhado com misericórida?
Pe. Fábio de Melo

AQUELE QUE SE MOVEU DE COMPAIXÃO

Coisa simples e fundamental lembra Jesus ao mestre da lei que lhe indagava a respeito do modo de poder receber a herança da vida eterna: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência; e ao teu próximo como a ti mesmo”. Para ilustrar sua afirmação Jesus conta uma parábola que é a história de sua vida e o resumo de sua missão.
Um homem havia caído nas mãos dos ladrões e jazia quase morto à beira do caminho. O estado lastimável daquele havia sido assaltado clamava por ajuda imediata, sem protelação, sem desculpas. Aquele ser humano simplesmente precisava ser ajudado, fosse amigo ou inimigo, simpático ou não. Ali estava perdendo sangue e com sério perigo de morrer. Sacerdote e levita, quem sabe imaginavam que ele já estivesse morto. Não se importam com ele. Tinham medo de se contaminar com um cadáver. Passaram adiante. Não “perderam” seu tempo. Um comentarista afirma: “Por que o sacerdote e o levita passaram ao largo não se diz. Talvez por julgarem o semimorto morto de verdade. E eles não o queriam tocar, pois o cadáver haveria de torná-los impuro para o culto. Ou talvez porque temessem eles mesmos cair nas mãos dos salteadores? Por que não queriam se atrasar? Em todo caso o pensamento no bem estar pessoal foi mais forte que o sentimento de misericórdia para com o desgraçado, se é que de algum modo se incomodaram. Como sacerdotes e levitas serviam ao Senhor e representavam os homens que deviam ser modelos no cumprimento do amor a Deus. Mas o amor ao próximo? Culto e misericórdia estavam separados entre si” Foram executar suas tarefas no culto. Tarefas marcadas, prescritas, mas talvez sem alma.
Passa, então, um samaritano. Por acaso. Um homem, quem sabe, no auge de suas forças, pelos quarenta anos, rico de experiências interiores, reto, mesmo sendo inimigo do que estava prostrado. Não faz considerações subjetivas. Toma consciência de que uma pessoa pode morrer se não forem tomadas urgentes providências. “Um samaritano, que estava viajando, chegou perto dele, viu e sentiu compaixão”. Importante esta observação: o samaritano sentiu compaixão. Cuida dele, leva-o em sua montaria, coloca-o na hospedaria, paga os gastos e promete pagar outros que por ventura acontecerem. Um homem bom, que ama efetivamente. Este é fortíssimo candidato a entrar na glória da herança eterna. O amor verdadeiro é o passaporte a ser apresentado nos umbrais da eternidade.
Ele, o filho de Maria e o Verbo feito carne, veio entre nós. Circulou no meio de leprosos e seres abandonados, olhou nos olhos mortos de cegos e teve pena da pobre viúva que não controlava sua tristeza ao enterrar se filho único. Percorreu a terra com um samaritano bom, recolhendo os estropiados na hospedaria de seu interior. Passou por perto de cada um e deitou nas feridas o azeite de sua atenção afetiva e efetiva. Quando já estava morto permitiu que um soldado lhe abrisse o peito e inaugurou uma nova e definitiva hospedaria para o jogados à beira do caminho, ou seja, os espaços de seu coração.
A comunidade dos cristão circula pelo mundo prestando atenção a todos os que estão morrendo para serem levados até o Coração do Verdadeiro e Bom Samaritano.

Fonte: www.franciscanos.org.br

XV DOMINGO DO TEMPO COMUM

EVANGELHO - Lucas 10,25-37

Um especialista em leis se levantou, e, para tentar Jesus perguntou: «Mestre, o que devo fazer para receber em herança a vida eterna?» Jesus lhe disse: «O que é que está escrito na Lei? Como você lê?» Ele então respondeu: «Ame o Senhor, seu Deus, com todo o seu coração, com toda a sua alma, com toda a sua força e com toda a sua mente; e ao seu próximo como a si mesmo.» Jesus lhe disse: «Você respondeu certo. Faça isso, e viverá!» Mas o especialista em leis, querendo se justificar, disse a Jesus: «E quem é o meu próximo?» Jesus respondeu: «Um homem ia descendo de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos de assaltantes, que lhe arrancaram tudo, e o espancaram. Depois foram embora, e o deixaram quase morto. Por acaso um sacerdote estava descendo por aquele caminho; quando viu o homem, passou adiante, pelo outro lado. O mesmo aconteceu com um levita: chegou ao lugar, viu, e passou adiante, pelo outro lado. Mas um samaritano, que estava viajando, chegou perto dele, viu, e teve compaixão. Aproximou-se dele e fez curativos, derramando óleo e vinho nas feridas. Depois colocou o homem em seu próprio animal, e o levou a uma pensão, onde cuidou dele. No dia seguinte, pegou duas moedas de prata, e as entregou ao dono da pensão, recomendando: ‘Tome conta dele. Quando eu voltar, vou pagar o que ele tiver gasto a mais’.» E Jesus perguntou: «Na sua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?» O especialista em leis respondeu: «Aquele que praticou misericórdia para com ele.» Então Jesus lhe disse: «Vá, e faça a mesma coisa.»
PALAVRAS DA SALVAÇÃO - Glória a vós, Senhor