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19 de mai. de 2010

A LECTIO DIVINA

A “Lectio Divina” é uma expressão latina já presente e consagrada no vocabulário católico, que pode ser traduzida como “leitura divina”, “leitura espiritual”, ou ainda como ocorre hoje em nosso país e em vários escritos atuais, como “leitura orante da Bíblia”. Ela é um alimento necessário para a nossa vida espiritual. A partir deste exercício, conscientes do plano de Deus e a Sua vontade, pode-se produzir os frutos espirituais necessários para a salvação. A Lectio Divina é deixar-se envolver pelo plano da Salvação de Deus. Os princípios da Lectio Divina foram expressos por volta do ano 220 e praticados por monges católicos, especialmente as regras monásticas dos santos: Pacômio, Agostinho, Basílio e Bento. O tempo diário dedicado à lectio divina sempre foi grande e no melhor momento do dia. A espiritualidade monástica sempre foi bíblica e litúrgica. A sistematização do método da lectio divina nós encontramos nos escritos de Guigo, o Cartucho, por volta do século XII.

A Lectio Divina tradicionalmente é uma oração individual, porém, pode-se fazê-la em grupo. O importante é rezar com a Palavra de Deus, lembrando o que dizem os bispos no Concílio Vaticano II, relembrando a mais antiga tradição católica – que conhecer a Sagrada Escritura é conhecer o próprio Cristo. Monges diziam que a Lectio Divina é a escada espiritual dos monges, mas é também de todo o cristão. O Papa Bento XVI fez a seguinte observação num discurso de 2005: “Eu gostaria, em especial, recordar e recomendar a antiga tradição da Lectio Divina, a leitura assídua da Sagrada Escritura, acompanhada da oração que traz um diálogo íntimo em que na leitura, se escuta Deus que fala e, rezando, responde-lhe com confiança a abertura do coração”.

O Concílio Vaticano II, em seu decreto Dei Verbum 25, ratificou e promoveu, com todo o peso de sua autoridade, a restauração da Lectio Divina, retomando essa antiquíssima tradição da Igreja Católica. O Concílio exorta igualmente, com ardor e insistência, a todos os fiéis cristãos, especialmente aos religiosos, que, pela frequente leitura das divinas Escrituras, alcancem esse bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo (Fl 3,8). Porquanto, “ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo” (São Jerônimo, Comm. In Is., prol).

O método mais antigo e que inspirou outros mais recentes, é que, seja pessoalmente, em comunidade ou no círculo bíblico nós comecemos a reflexão com a Palavra de Deus e que, depois da invocação do Espírito Santo, segue os passos tradicionais: 1- Lectio (Leitura); 2- Meditatio (Meditação); 3- Oratio (Oração) e 4- Contemplatio (Contemplação). Existem outros métodos que, inspirados aqui, procuram ajudar o cristão a acolher em sua vida a Palavra de Deus e a colocar em prática no seu dia a dia. Em nossa 48ª Assembleia dos Bispos do Brasil, celebrada em Brasília de 3 a 13 de maio último, além de tratar como tema central a “Palavra de Deus”, proporcionou aos Bispos, na manhã do domingo, dia 9, um tempo para lerem, meditarem e rezarem com esse método. A mensagem que foi publicada sobre o tema central está baseada justamente nesse clima. Chegou o momento de passarmos a colocar em nossos grupos de reflexão, círculos bíblicos e outros grupos a Palavra de Deus como fonte de reflexão e inspiração para iluminar a nossa realidade concreta.

O método tradicional é simples: são quatro degraus – “a leitura procura a doçura da vida bem-aventurada; a meditação a encontra; a oração a pede, e a contemplação a experimenta. A leitura, de certo modo, leva à boca o alimento sólido, a meditação o mastiga e tritura, a oração consegue o sabor, a contemplação é a própria doçura que regala e refaz. A leitura está na casca, a meditação na substância, a oração na petição do desejo, a contemplação no gozo da doçura obtida.” (Guigo, o Cartucho, Scala Claustralium).

Portanto, quanto à leitura, leia, com calma e atenção, um pequeno trecho da Sagrada Escritura (aconselha-se que nas primeiras vezes utilizem-se os textos dos Evangelhos). Leia o texto quantas vezes e versões forem necessárias. Procure identificar as coisas importantes desta perícope: o ambiente, os personagens, os diálogos, as imagens usadas, as ações. É importante identificar tudo com calma e atenção, como se estivesse vendo a cena. A leitura é o estudo assíduo das Escrituras, feito com aplicação de espírito.

Quanto à Meditatio, começa, então, diligente meditação. Ela não se detém no exterior, não pára na superfície, apóia o pé mais profundamente, penetra no interior, perscruta cada aspecto. Considera atenta sobre o que esta Palavra está iluminando minha vida e a realidade em que vivo hoje. Quais são as circunstâncias que ela me questiona e me incentiva? Depois de ter refletido sobre esses pontos e outros semelhantes no que toca à própria vida, a meditação começa a pensar no prêmio: Como seria glorioso e deleitável ver a face desejada do Senhor, mais bela do que a de todos os homens (Sl 45,3), não mais tendo a aparência como que o revestiu sua mão, mas envergando a estola da imortalidade, e coroado com o diadema que seu Pai lhe deu no dia da ressurreição e de glória, o dia que o Senhor fez (Sl 118,24).

Quanto à Oratio, toda boa meditação desemboca naturalmente na oração. É o momento de responder a Deus após havê-lo escutado. Esta oração é um momento muito pessoal que diz respeito apenas à pessoa e Deus. Não se preocupe em preparar palavras, fale o que vai ao coração depois da meditação: se for louvor, louve; se for pedido de perdão, peça perdão; se for necessidade de maior clareza, peça a luz divina; se for cansaço e aridez, peça os dons da fé e esperança. Enfim, os momentos anteriores, se feitos com atenção e vontade, determinarão esta oração da qual nasce o compromisso de estar com Deus e fazer a sua vontade. Vendo, pois, a pessoa que não pode por si mesma atingir a desejada doçura de conhecimento e da experiência, e que quanto mais se aproxima do fundo do coração (Sl 64,7), tanto mais distante é Deus (cf. Sl 64,8), ela se humilha e se refugia na oração. E diz: Senhor, que não és contemplado senão pelos corações puros, eu procuro, pela leitura e pela meditação, qual é, e como poder ser adquirida a verdadeira doçura do coração, a fim de por ela conhecer-te, ao menos um pouco.

Quanto ao último passo, a Contemplatio: desta etapa a pessoa não é dona. É um momento que pertence a Deus e sua presença misteriosa, sim, mas sempre presença. É um momento no qual se permanece em silêncio diante de Deus. Se ele o conduzirá à contemplação, louvado seja Deus! Se ele lhe dará apenas a tranquilidade de uns momentos de paz e silêncio, louvado seja Deus! Se para você será um momento de esforço para ficar na presença de Deus, louvado seja Deus! Mas em todas as circunstâncias será uma maneira de ver Deus presente na história e em nossa vida! “Ele recria a alma fatigada, nutre a quem tem fome, sacia sua aridez, lhe faz esquecer tudo o que não é terrestre, vivifica-a, mortificando-a por um admirável esquecimento de si mesma, e embriagando-a sóbria a torna” (Guido, o Cartucho).

Há uma preocupação grande com a vida prática, com a conversão, de modo que muitas vezes se costuma acrescentar a “actio”, ou seja, ação junto com a contemplação. Os temores de uma vida “alienada” podem ser sempre apresentados em todas as circunstâncias, mas quando se aprofunda realmente na Palavra de Deus e se crê que ela é como uma espada de dois gumes que penetra no mais profundo de nosso ser e que também ilumina nossa vida e nosso caminho, teremos certeza de que ela ilumina a nossa estrada e nos conduz com a graça de Deus por uma vida nova.

Portanto, diante deste patrimônio da nossa Igreja que é este método da Lectio Divina, desejo a todos que inspirados na mensagem que os Bispos enviaram acerca do tema central da 48º Assembleia, possamos todos nós aprofundar a Leitura Orante da Bíblia, que, aproximando-nos da Palavra de Deus, encontremos os caminhos da vida dos cristãos hoje, neste início de milênio, que, diante da atual mudança de época, respondamos com uma vida nova, haurida nas escrituras sagradas, que nos comunicam a Palavra eterna, o Verbo eterno, Jesus Cristo, nosso Senhor!

Dom Orani João Tempesta

OS CRISTÃOS NÃO SÃO DO MUNDO

Continuamos a meditar na Oração Sacerdotal de Jesus. Ele apresenta ao Pai seus derradeiros pedidos antes de entrar na Paixão.

Que eles sejam um. Um dos sinais distintivos do cristão é ser aquele que busca a unidade. Há essa unidade entre os católicos, com os outros cristãos, com aqueles que buscam a Deus por outras estradas e com os homens de boa vontade. O tema da unidade está vinculado à vinda do Espírito. Com a sua chegada houve o milagre das línguas. Assim como o Pai e o Filho são um, assim também haverá a unidade entre os que são de Cristo. Esta é uma semana em que costumamos rezar pela unidade dos cristãos.

Eu lhes dei a tua palavra, mas o mundo os rejeitou, porque não são do mundo como eu não sou do mundo. Jesus lembra ao Pai que santificara os que ele lhe tinha dado. “Esta santificação implica que, estando no mundo, não (mais) pertencemos ao mundo. É um dos paradoxos da existência cristã. Quanto mais cristã, tanto mais atuante no mundo e, porém, menos dependente dele: os dois pés no chão, os olhos erguidos para o céu. O mundo para João é o mundo com tendência de se fechar a Deus; portanto odeia os filhos de Deus. Por outro lado, é o mundo, onde vivem os que são chamados a se tornarem filhos de Deus. Por isso, os fiéis devem estar presentes no mundo. Jesus não pede que sejam tirados daí, mas que sejam testemunhas de um amor que não é deste mundo. Por isso, serão diferentes.

Tudo isso, Jesus lhes disse para que, na sua ausência, não sejam abalados em sua alegria, mas antes a possuam em plenitude” (J. Konings, Liturgia Dominical, Vozes, p. 255).

Que luta! Os discípulos de Jesus não podem descansar. Há esses inícios deslumbrantes, comoventes, sensíveis. Muitos de nós, em nossos dias de jovens, descobrimos a fascinante figura de Cristo caminhando ao nosso lado. E lhe demos tudo. Mais não era possível. Sentíamos e sentimos que éramos e somos dele. Mas a caminhada da vida é longa, desgastante. O espírito do mundo também nos seduz: os primeiros lugares, o gozo, a fama, os aplausos, o dinheiro, o descanso em nosso canto, o lucro, o esquecimento dos que estão jogados à beira do caminho... O mundo mal nos cerca.

Não te peço que os tires do mundo, mas que os guardes do maligno. Sim, os cristãos estão no mundo. Eles se casam, têm filhos, têm contas bancárias. Comem, dormem, sofrem. Tomam conduções, percorrem estradas, trabalham em hospitais, fazem pesquisas. Vivem no mundo, mas são diferentes. Têm os pés na realidade, mas os olhos voltados para o alto. Sabem que são enviados ao mundo para que este possa ser de Cristo.

EVANGELHO DO DIA - João 17,11-19

Naquele tempo, Jesus ergueu os olhos para o céu e rezou, dizendo: "Pai santo, guarda-os em teu nome, o nome que tu me deste, para que eles sejam um, assim como nós somos um. Quando eu estava com eles, eu os guardava em teu nome, o nome que tu me deste. Eu os protegi e nenhum deles se perdeu, a não ser o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura. Agora eu vou para junto de ti. Entretanto, continuo a dizer essas coisas neste mundo, para que eles possuam toda a minha alegria. Eu dei a eles a tua palavra, e o mundo os odiou, porque eles não pertencem ao mundo, como eu não pertenço ao mundo. Não te peço para tirá-los do mundo, mas para guardá-los do Maligno. Eles não pertencem ao mundo, como eu não pertenço ao mundo. Consagra-os com a verdade: a verdade é a tua palavra. Assim como tu me enviaste ao mundo, eu também os envio ao mundo. Em favor deles eu me consagro, a fim de que também eles sejam consagrados com a verdade."
PALAVRAS DA SALVAÇÃO - Glória a vós, Senhor