Os textos e fotografias produzidos pela equipe da PASCOM da Paróquia São José – C. dos Dantas podem ser livremente utilizados, mencionando-se o blog http://www.montedogalo2009.blogspot.com/ como fonte

14 de dez. de 2010

A festa está preparada. E o festejado?

A 3ª semana do Advento inicia com um convite insistente à alegria: “Alegrai-vos sempre no Senhor! Digo de novo – alegrai-vos! O Senhor está perto!” (Fl 4,4s). E as palavras poéticas do profeta Isaías falam da terra desértica que se alegra, germina e cobre de flores por toda parte; dos surdos que passam a ouvir, dos paralíticos que pulam como cabritos, dos mudos que começam a falar e a proclamar os louvores de Deus... E reanima os desanimados e fracos e os exorta a não temerem, a retomarem coragem e vigor, a se colocarem em pé.
E por qual motivo? Porque Deus está próximo e vem salvar o seu povo, que vivia no exílio e na escravidão. Voltarão para casa, reconstruirão a cidade e viverão em paz e liberdade. Haverá sorrisos, cânticos de louvor e um brilho de felicidade nos olhos de todos. Nunca mais conhecerão a dor e o pranto (cf Is 35,1-6.10).
O anúncio profético é dirigido a um povo submetido à humilhação e ao desprezo em meio aos outros povos. Mas o que a Palavra de Deus nos diz vai além da aplicação histórica específica e nos faz pensar nas muitas situações que a humanidade viveu em todos os tempos, vive hoje e ainda viverá, até que na terra habitem os descendentes de Adão: Humilhação, violência, desprezo, violação dos direitos mais básicos, discriminações, sonhos de felicidade abortados, perplexidade quanto ao futuro, doenças ameaçadoras, crise ecológica e uma série infindável de aflições. Sem pensar na “irmã morte”, indesejada mas furtiva e inseparável companhia, que nos espreita a cada passo...
De fato, não apenas o povo de Israel viveu sem pátria e oprimido na Babilônia: Todos somos exilados e peregrinos neste mundo, submetidos a constantes aflições e angústias, debatendo-nos na estreiteza de nossas limitações, mas com um coração inquieto, que sonha alto, quer liberdade e felicidade plena. Estamos à procura da pátria definitiva. E aqui ressoa a mensagem do Advento: “Não tenhas medo, Jacó, pobre vermezinho! Não tenhais medo, homens de Israel! Eu vos ajudarei!” (cf Is 41, 13-14). Coragem, homens e mulheres do nosso tempo! Coragem, jovens e anciãos apreensivos quanto ao futuro! Não tenhais medo! Deus não abandonou a humanidade ao seu destino, sem mais se importar conosco! Coragem, não estamos sozinhos neste mundo! Nossas angústias não ficam sem resposta, nem nossas buscas, sem sentido.
A Boa Nova do Advento e do Natal refletem a antropologia da fé cristã e uma visão sobre o mundo, que traz esperança ao homem: Não estamos sozinhos no universo! Não somos frutos do acaso, nem somos impelidos por um sonho impossível: Deus sabe de nós, olha por nós e nos estende a mão com infinita ternura e compaixão: “Misericórdia e piedade é o Senhor; Ele é amor, paciência e compaixão!” (cf Sl 144/145). E a Igreja não pode deixar de proclamar esta Boa Nova ao mundo, como luz que brilha nas trevas e água que irriga o deserto.
O mundo não sempre compreende, nem dá ouvidos a este bom anúncio da Igreja. Muitas vezes, o homem ainda prefere as fantasias e ilusões criadas por ele mesmo. Cria todo um clima de festa, enfeita ruas e praças, compra e distribui presentes, as satisfações são medidas pelo tamanho dos pacotes e a quantidade de comida na ceia de Natal! A festa é preparada mas o homenageado não foi lembrado... E convida-se Papai Noel em lugar do menino Jesus! A constatação do primeiro Natal continua a se repetir: Maria e José, excluídos do brilho da cidade e dos lugares de festa - “não havia lugar para eles...” - foram abrigar-se numa gruta, que servia de abrigo para animais (cf Lc 2,7). E aí nasce para o mundo o Filho de Deus e enche o mundo de luz!
Ainda está em tempo de dizer à cidade que no Natal foi Deus que veio ao encontro de todos nós, com infinita ternura e compaixão! Ainda é tempo de nos prepararmos espiritualmente, para celebrar com fé e intenso júbilo as alegrias da salvação. Abramos espaços em nossa vida e no convívio social para acolher o Deus que veio e continua a vir ao nosso encontro. Se o Natal virou uma grande festa do consumo para muitos, não cessemos de propor e testemunhar ao mundo o seu significado cristão.
Agora, que entramos na Novena Litúrgica do Natal, intensifiquemos a oração pessoal, em grupos e nas famílias e as ações de solidariedade fraterna; preparemo-nos espiritualmente mediante a confissão. E não esqueçamos de fazer um belo presépio nas casas, envolvendo as crianças e os jovens na sua montagem; presépio com Maria, José e Jesus, o anjo anunciante, os pastores e os reis magos. E também fica bonito colocar a fotografia de cada membro da família perto da manjedoura...
Cardeal Odilo Pedro Scherer