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14 de mar. de 2010

O PAI CORREU A SEU ENCONTRO

«Um pai tinha dois filhos...». Basta ouvir estas palavras para que quem tem uma mínima familiaridade com o Evangelho exclame imediatamente: a parábola do filho pródigo! Em outras ocasiões, sublinhei o significado espiritual de parábola: dessa vez eu gostaria de sublinhar nela um aspecto pouco desenvolvido, mas extremamente atual e próximo da vida. Em seu fundo, a parábola não é senão a história de uma reconciliação entre pai e filho, e todos sabemos quão vital é uma reconciliação assim para a felicidade tanto de pais como de filhos.
Por que será que a literatura, a arte, o espetáculo, a publicidade, se aproveitam de uma só relação humana: a de fundo erótico entre o homem e a mulher, entre esposo e esposa? Publicidade e espetáculo não fazem mais que cozinhar este prato de mil maneiras. Deixamos, no entanto, sem explorar outra relação humana igualmente universal e vital, outra das grandes fontes de alegria da vida: a relação pai-filho, a alegria da paternidade. Na literatura, a única obra que trata realmente desse tema é a «Carta ao pai», de F. Kafka (a famosa novela «Pais e filhos», de Turgeney, não trata na verdade da relação entre pais e filhos, mas entre gerações diferentes).
Se, ao contrário, mergulhássemos com serenidade e objetividade no coração do homem, descobriríamos que, na maioria dos casos, alcançar uma relação intensa e serena com os filhos é, para um homem adulto e maduro, não menos importante e satisfatória que a relação homem-mulher. Sabemos quão importante é esta relação também para o filho ou a filha e o grande vazio que deixa sua ruptura.
Assim como o câncer ataca habitualmente os órgãos mais delicados do homem e da mulher, a potência destruidora do pecado e do mal ataca os núcleos vitais da existência humana. Não há nada que se submeta ao abuso, à exploração e à violência como a relação homem-mulher, e não há nada que esteja tão exposto à deformação como a relação pai-filho: autoritarismo, paternalismo, rebelião, rejeição, falta de comunicação.
Não podemos generalizar. Existem casos de relações belíssimas entre pai e filho e eu mesmo conheci várias delas. Mas sabemos que há também, e mais numerosos, casos negativos de relações difíceis entre pais e filhos. No profeta Isaías se lê esta exclamação de Deus: «Eu criei filhos e os eduquei, e eles se rebelaram contra mim» (Is 1,2). Creio que muitos pais hoje em dia sabem, por experiência, o que estas palavras querem dizer.
O sofrimento é recíproco; não é como na parábola, onde a culpa é única e exclusivamente do filho... Há pais cujo sofrimento mais profundo na vida é ser rejeitados ou até desprezados pelos filhos. E há filhos cujo sofrimento mais profundo e inconfessado é sentir-se incompreendidos, não estimados ou inclusive rejeitados pelos pais.
Insisti no aspecto humano e existencial da parábola do filho pródigo. Mas não se trata só disso, ou seja, de melhorar a qualidade de vida neste mundo. Entra no esforço de uma nova evangelização a iniciativa de uma grande reconciliação entre pais e filhos e a necessidade de uma cura profunda de sua relação. Sabe-se o muito que a relação com o pai terreno pode influir, positiva ou negativamente, na própria relação com o Pai celestial e, portanto, a própria vida cristã. Quando nasceu o precursor João Batista, o anjo disse que uma de suas tarefas seria a de «fazer voltar os corações dos pais aos filhos e os corações dos filhos para os pais» [cf. Lc 1,17. ndr], uma missão mais atual que nunca.

Frei Raniero Catalamessa, ofmcap

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