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27 de mar. de 2011

Quaresma e Campanha da Fraternidade

Como cristãos somos convocados pela Igreja a nos preparar para a Páscoa, nestes quarentas dias da quaresma. Este é um tempo fecundo de bênçãos e graças para quem leva a sério a sua espiritualidade evangélica e assume caminhar com Cristo no exigente processo de conversão, aceitando mudar de atitudes para estar mais sintonizado com a Palavra de Deus.
A Igreja do Brasil, durante a quaresma, realiza a já conhecida Campanha da Fraternidade. Neste ano o tema escolhido é: “Fraternidade e a Vida no Planeta” e o lema: “A criação geme em dores de parto” (Rm 8,22). “A implantação do sistema industrial de produção de bens e o consumo compulsivo, inclusive de produtos supérfluos, intensificou a extração de materiais da natureza e ocasionou profundas transformações na face do planeta” (Manual da CF, p. 21). O Planeta Terra é um organismo vivo, que reage a todos os acontecimentos e mudanças nele operadas pelo homem e por outros seres. Ultimamente a preocupação em relação à situação da nossa casa comum tem sido grande! O aquecimento global é um fato que tem conseqüências: as grandes tempestades, temperaturas acima do normal no verão e muito abaixo da média no inverso. Estes fenômenos exigirão adaptações muito rápidas das comunidades humanas e de todo ser vivo. Tais exigências têm provocado tantos questionamentos e reflexões. Entre eles: será que não podemos mudar nossas atitudes para amenizar os efeitos de tal aquecimento?
As reflexões da Campanha da Fraternidade vão nesta linha. Enquanto os cientistas têm diversas opiniões sobre o efeito estufa e o aquecimento do planeta, nós acreditamos que podemos fazer muito para amenizar os efeitos do aquecimento e até revertê-lo. Se uma boa parte das mudanças na Terra tem sido ocasionada pela ação do homem, então ele mesmo pode mudar de atitudes e comportamentos para garantir um processo harmonioso que garanta a continuidade da vida no planeta, a sua sustentabilidade.
Este conceito de sustentabilidade tem se tornado um novo paradigma civilizacional, ou seja, uma referência para analisar o desenvolvimento das nações em relação à conservação das condições de vida no planeta. “A noção de sustentabilidade pretende harmonizar três vertentes: economia, meio ambiente e bem estar social. Pretende prestar-se como indicadora de um “tipo de desenvolvimento que nos permite viver nos limites suportáveis para a Terra, que são a disponibilidade de recursos naturais e os limites de absorção de resíduos e poluição, mas também o tipo de desenvolvimento que torne possível a redução da pobreza” (Manual da CF, p.50-51). Este é o grande desafio: encontrar o justo equilíbrio entre desenvolvimento econômico, quando este privilegia o lucro e não leva em consideração as outras realidades como o meio ambiente e as condições sociais. Pensar no meio ambiente isolado da ecologia humana é um escândalo. Muitas vezes as leis que defendem o meio ambiente são tão rigorosas, que confundem o sentido delas, uma vez que exclui o ser humano. Nesta visão, as condições sociais devem privilegiar a vida humana e aqui enfrentamos outro grave problema. O ser humano é tratado muitas vezes como se não tivesse valor nenhum ou valesse menos que um animal ou uma planta. A relação de valor neste âmbito está completamente confusa. Por exemplo: alguém vai preso, sem fiança, por maltratar animais e, por isto, deve pagar multas altas. Mas, pouca gente é responsabilizada pelas crianças jogadas nas ruas, prostituídas, utilizadas em trabalho forçado; mesmo existindo leis para combater o trabalho escravo no Brasil, ele persiste; o trabalho inumano nos lixões das nossas cidades fala de como o ser humano é tratado, principalmente se ele é pobre. Esta diferença do tratamento que se dá a animais, plantas e ao ser humano é, de fato, um escândalo. Desejamos que as leis protejam o meio ambiente em função da vida como um todo no planeta. No entanto, não podemos admitir que a vida humana continue sendo tratada com descaso, como se fosse algo inferior e sem importância. O ser humano continua sendo o centro do planeta e sua vida parte essencial na composição do meio ambiente. Esta relação precisa ser melhor entendida e aprofundada para que valorizemos a totalidade da vida.

Dom Manoel Delson Pedreira da Cruz
Bispo Diocesano de Caicó – RN.

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