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20 de abr. de 2010

Meu Jesus que ri...

Completamente soterrada pelas dezenas de artigos, e-mails, entrevistas, conversas e opiniões sobre o filme “A Paixão”, de Mel Gibson, entrei na salinha onde escrevo e deparei-me – aliviada! – com o meu “Laughing Jesus”.
Trata-se de uma foto que ganhei quando estive em Michigan-EUA, há uns oito anos. É um desenho em crayon, no qual Jesus dá uma boa e sonora gargalhada. Quando a ganhei, disseram-me que foi feita por um “truck rider”, uma espécie de caronista de caminhão, e colocada à guisa de capa do pneu traseiro de uma carreta – um pouco como estas capas de borracha que protegem os pneus de alguns veículos utilitários em nossas cidades. Aos poucos, segundo me contaram, a imagem foi-se popularizando e sendo conhecida como “The Laughing Jesus” – o Jesus que ri.
Coloquei, juntas, a capa da Newsweek da semana, que trazia Jesus ensangüentado, ferido, crucificado, sofrido e o porta-retrato com a foto do Jesus que ri. Lado a lado, as duas fotos me levaram a meditar sobre o Ressuscitado que passou pela Cruz e do Crucificado que ressuscitou. Que contraste! Que grande mistério! Que impressionante realidade!
Colocava a foto da cruz à esquerda e, em seguida, à direita, em uma tentativa de seqüência cronológica à moda dos ocidentais e contemplava Jesus. Jesus que ri como homem, entre os homens, com as criancinhas, com as mancadas de Pedro. Ri nos jantares, nos casamentos, nas festas religiosas em Jerusalém. Ri com Maria, com João, com José. Ri com seus doze, ao redor do fogo que afasta o frio da noite. Jesus ri, ri, ri! Foto do “Laughing Jesus” à esquerda.
Depois, Jesus sofre, sofre, sofre. Sofrimento físico – tão bem retratado no filme de Gibson – e sofrimento interior, moral, espiritual, profundo – impossível de ser retratado por qualquer homem, por mais genial que seja. Sofrimento por tomar sobre si o pecado, origem de toda dor e morte do homem; que Ele ama. Sofrimento por ver-se, humanamente, afastado do Pai ao assumir nosso pecado, uma vez que Deus e o pecado se excluem inteiramente. Sofrimento pela solidão, pelo abandono de seus queridos. Jesus de Mel Gibson à direita.
Em um segundo, a foto de Jesus que ri, passa, firme, para a direita: ei-Lo ressuscitado, feliz, cheio da alegria da vida nova, dádiva de amor do seu Pai. Feliz, indescritivelmente feliz por ter obedecido e se humilhado até o fim: o homem, seu amado, estava salvo! Iria ressuscitar como Ele! Iria ter vida eterna com Ele!
Feliz, Jesus ri, ri, ri! Ri de Pedro, pulando, apressado e nu, da barca à noite: “É o Mestre!” Ri de Madalena que, de tão esperta, ficou confusa pela dor: “Maria!”, “Rabbuni!”. Ri dos discípulos que pensavam ser Ele um fantasma: “Ponham o dedo em minhas chagas... dêem-me algo para comer... fantasmas não têm músculos e ossos, fantasmas não comem!”. Ri, feliz, da cara de espanto de Tomé: “Não sejas incrédulo, Tomé!” Ri, feliz, feliz, com a alegria imensa, indescritível, barulhenta, incontrolável, dos discípulos escondidos na sala de cima: “Shalom! Paz a vós!”
Jesus ri. Jesus sofre. Jesus ri. Foto à esquerda, foto à direita. À esquerda, à direita. Vida, morte, Vida. Ressuscitado que passou pela cruz, Crucificado que ressuscitou. Direita, esquerda, direita, esquerda. Como não lembrar que “os que com lágrimas semeiam, com júbilo ceifarão”? (cf. Sl 126,5). Como não crer que, de fato, os que se humilham livremente serão exaltados pelo Pai? (cf. 1Pd 5,6). Como não ter esperança, certeza, confiança, fé?
Enquanto escrevo, ao meu lado, está meu “Laughing Jesus”, meu Jesus que ri, assim, em tempo de Páscoa, vivo, ressuscitado, feliz, rindo-se, também, de mim que, como uma menina tola, fico a brincar – na vida e sobre meu birô – de fazê-lo rir, chorar, rir novamente. Sobre o birô, na Páscoa, está decidido: fica meu Jesus que ri. Quanto à vida?... bem, Ele mesmo se encarrega de rir e chorar comigo, nesta dança de amigo, sempre a dois, sempre bela, à qual costuma convidar os que ama e quer fazer participar de sua vida, dor, morte, ressurreição.

por Maria Emmir Nogueira, Co-fundadora da Comunidade Shalom

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