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13 de nov. de 2009

TESTEMUNHO: E Jesus já tinha providenciado tudo

Houve um tempo em que as coisas estavam de mal a pior em minha casa. Minha mãe trabalhava como copeira, ganhava pouco mais de um salário mínimo, sustentava com seu minúsculo salário uma família de mais de 5 pessoas e ainda tinha as prestações da casa. Eu tinha 20 anos, estava desempregado há 2 anos. Fazia um bico aqui, outro ali, mas não ganhava o suficiente nem para pagar a água e a luz. Era frustrante. Deus sabe a angústia que passei... só de lembrar me dá um nó no estômago. Só pra constar, nunca conheci meu pai biológico. Desapareceu antes de eu nascer. O meu avô foi o pai que conheci toda a minha vida e passei a chamá-lo de "papai" desde criança.
O engraçado é que trabalhava com todo o tipo de coisas desde os 10 anos de idade, fui jornaleiro, assistente de carpinteiro, vendedor de limão, vendedor de café, bolo e cuzcuz na feira, repositor, estagiário, digitador... mas jamais tive minha carteira de trabalho assinada e, essa ausência de experiência em carteira impedia que conseguisse empregos decentes. Era sempre um quebra-galho.
É engraçado como as empresas exigem experiência em carteira, mas ninguém quer assinar. Como uma pessoa que nunca teve a carteira assinda vai ter experiência se o mercado de trabalho a exige como condição para nele entrar? Gostaria que os empresários respondessem essa. É uma loucura! Ninguém assina sua carteira, mas exige que você tenha experiência em carteira para trabalhar. É um contra-senso. Um mal incrustado no coração da sociedade moderna.
Após longa procura consegui um emprego que consistia em fazer telemarketing e depois ir à casa das pessoas oferecer um produto. Não assinavam a carteira, não davam passagem de ônibus, as ligações tinham que ser feitas de orelhões na rua mesmo, eles não davam cartões telefônicos, tinha que comprar do meu bolso e eu só recebia se vendesse alguma coisa.
Como a locomoção para as residências era constante e os lugares muito distantes, acabava dependendo da minha mãe para bancar as passagens. Meu Deus! como era humilhante aquela situação. Praticamente pagava para trabalhar, pois ainda tinha a alimentação. Tinha dias que passava sem comer nada, apenas água, que às vezes tomava na torneira do banheiro mesmo. O estômago doía de tanta fome. Mas agüentava fime, era melhor que ficar em casa sem me sentir homem de verdade. Minha mãe nem sabe dessas coisas... como poderia contar? Pra completar tinha que trabalhar de terno e gravata, era obrigatório. Então fiz uma dívida na loja para comprar o terno, sapatos, cinto e gravata e além do aparato para barbear todos os dias pela manhã, pois o supervisor conferia a barba e exigia que o rosto estivesso lisinho.
Como essas coisas, por mais simples que sejam são caras! E, é claro! minha mãe se esforçou para me ajudar a pagar tudo.
Não demorou para que o supervisor exigisse que trabalhasse também no domingo. Ora! eu era coordenador do grupo de jovens JOBAC, era catequista e ainda tocava nas missas. Trabalhar no domingo era impensável. O que faria com as atividades na Igreja? Fiquei muito triste com isso. Todos os dias me esforçava abeça para atingir as metas que eles estabeleciam, não ganhava quase nada pelo esforço e agora queriam tudo de mim, queriam o domingo que dedicara integralmente a Jesus nos últimos 5 anos. Sem pensar muito eu respondi secamente com a voz trêmula: "o domingo é do Senhor, não há dinheiro que pague por ele". O supervisor riu. "mesmo você sendo o mais produtivo dos nossos vendedores" - disse ele - "não vai ganhar o dinheiro que precisa sem trabalhar no domingo. É o dia que mais rende!" Respondi que o domingo era impossível para mim.
Ele, com o olhar firme, disse que se eu não aceitasse poderia entregar a pasta da empresa e procurar outro emprego. Eu já estava com vontade de entregar mesmo, mas a idéia de ficar desempregado era aterradora. Saí da sala dele com uma tristeza tão grande que não posso descrever. Coincidentemente era segunda-feira e todas as segundas-feiras eu passava na capela da Rádio Nova Aliança para visitar o Santíssimo. Ficava pelo menos 20 minutos antes da sair para o trabalho de rua. Suplicava a Jesus que me mostrasse uma saída, pois sem experiência em carteira jamais conseguiria um emprego que, de fato, pudesse ajudar em casa. E o atual era uma enorme perda de tempo.
Fui direto para a Rádio Nova Aliança. Encontrei a capela vazia neste dia. Costumava ter um violão ao lado do altar o qual peguei e comecei a dedilhar uma música enquanto chorava minha angústia aos pés do Santíssimo Sacramento.
Fiquei uns 15 minutos sozinho com Ele e levantei para sair. Ao mesmo tempo uma senhora idosa adentrou a Capela, me deu um sorriso enquanto me cumprimentava com a cabeça e se ajoelhou diante do Sacrário. Eu olhei para ela por um instante enquanto fazia a genuflexão para sair. Ao segurar o trinco ouvi um suave "PSIU!". Parei segurando o trinco da porta. Ouvi de novo. "Ei, você!" Me virei. A mulher estava de pé vindo em minha direção. Eu olhei para ela e perguntei "Eu?" Ela se aproximou e disse "Sim, você!". Segurou minhas mãos. As duas. E juntou-as à frente de seu rosto, envolvendo-as com as suas como em oração. Suas mãos estavam quentes e aconchegantes.
Então olhando em meus olhos ela disse: "Filho, eu não sei o que você andou pedindo para Ele" - fez um gesto com a cabeça indicando o altar - " Mas Ele me mandou te dizer que você pode fazer o que está pensando sem medo, pois Ele já providenciou tudo e você não precisa mais se preocupar".
Eu fiquei mudo, olhando para aquela senhora idosa, me limitei a fazer um som irreconhecível que saiu misturado a um suspiro prolongado. Ela então disse: "Acredite! Ele está me dizendo isso agora mesmo, você não ouve? Eu não sei do que se trata, só sei que Ele mandou eu dizer isso a você."
Eu a agradeci, as lágrimas escorriam pelo meu rosto, dei um tempo no banheiro da empresa para me recompor e fui direto a sala do supervisor. Coloquei a pasta sobre a mesa dele, o agradeci, desejei-lhe muitas felicidades e saí, só o ouvi dizer que eu iria me arrepender, mas não olhei para trás. Peguei um ônibus para casa, respirando aliviado como se tivessem retirado o mundo das minhas costas. Mas ainda precisava encarar minha mãe. Como explicaria isso a ela? Então rezei, pedi a Jesus que preparasse o coração dela para isso. Felizmente ela entendeu e aceitou, pois percebia a tempos o quanto aquele emprego estava me fazendo mal.
Duas semanas depois ela chegou cheia de felicidade. Uma das empresas que prestavam serviço no trabalho dela havia me chamado para trabalhar lá. Eu fizera um estágio na referida empresa 4 anos antes, nem me lembrava mais. E agora a empresa resolveu assinar minha carteira. Avisaram para ela, pois não tínhamos telefone em casa, então ligaram para o trabalho dela. Foi maravilhoso. Pela primeira vez eu tive minha carteira assinada. O trabalho era de segunda a sexta, meio período. Das 13:00 às 19:00h. O salário era o dobro do da minha mãe. Tinha plano de saúde(Um ano depois precisei de uma cirurgia e a empresa bancou tudo!). Davam vale alimentação, passagem e incentivos por produção no serviço. Passei a ter conta em banco, talão de cheques, cartão de crédito. Pude viajar, até conheci a praia nas minhas primeiras férias.
Eu só precisei colocar toda a minha miséria ao pé do sacrário e humildemente pedir com fé e persistência.
Jesus providenciou tudo. E me deu muito mais do que eu merecia, muito mais do que eu pedi, muito mais do que eu esperava. Com o tempo pude sonhar com uma faculdade. Ninguém na minha família tinha faculdade. Aliás quase ninguém possuía o nível médio. Hoje, graças a Deus, a vida melhorou muito. Não estou mais naquela empresa. De lá pra cá, já passei por muitas outras, mas terminei minha faculdade, já sou pós-graduado e me preparo para o mestrado. Tenho tantos certificados que perdi a conta. Todos os chefes que tive nesse período foram bons pra mim, se tornaram como pais adotivos e cuidaram para que eu pudesse estudar. Que Deus abençoe todos eles e lhes dê grandes realizações nesta vida e a felicidade na outra. Até minha mãe, que só tinha o primário, já fala em fazer uma faculdade. Imagina... Isso é maravilhoso!!!
Deus é bom pra mim.
"Louvado sejas, ó meu Deus! Ninguém nesse mundo tem mais do que eu."
Ah! Só pra constar, eu não me arrependo nem por um instante. Aquele supervisor se enganou. Espero que ele esteja feliz, onde estiver. Crer na providência divina é sempre a melhor e mais rentável saída. Todavia não espere acomodado sem se esforçar, pois Deus não gosta de preguiça.
Testemunho de vida: Marlos Afonso S. de Lira

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